quarta-feira, 12 de junho de 2013

Faço minhas as palavras da Ruth de Aquino


Vida longa ao namoro



RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
RUTH DE AQUINO
Pode não parecer, mas sou romântica. Isso não quer dizer que precise ganhar flores. Talvez, por isso, nunca nenhum namorado ou marido me tenha presenteado com rosas. Eles se sentiriam deslocados na cena, no tempo e no espaço. Digamos que escolhi homens que, como eu, não associam amor a buquês. Sei que escolhi. Lembro cada vez em que me apaixonei e pensei: agora, é este.

Já ganhei árvores da felicidade... do meu atual namorado. Muito atual. Completamos 22 anos de namoro em abril. Comemoramos no mesmo mês, mas em datas diferentes. Eu, no dia em que nos conhecemos – foi uma espécie de “surpresa à primeira vista”. Ele, no dia em que fizemos amor pela primeira vez. Convidou-me para dormir em sua casa, por elegância, jamais carência. Voltei para minha casa. Já ficava claro ali, em abril de 1991, que eu queria apenas romance, não casamento. Ele também.

Amigos não se conformam quando nos tratamos de namorado e namorada. Como assim? Isso já virou um casamento! Não virou. Tenho ex-maridos, pais de meus filhos. Sei o que é morar na mesma casa, constituir família. Ele tem ex-mulher, mãe de seus filhos. Somos solteiros, não casamos oficialmente. Existe diferença entre casamento e namoro. Não somos marido e mulher. Não acreditamos em usucapião no amor.

A atriz Marieta Severo, de 66 anos, namora há oito o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho. Ela falou para a revista Quem: “Moro na minha casa, ele na dele. Na minha cabeça, quando não se mora junto, se chama namoro. Gosto que seja namoro. Adoro esse nome (risos). Já vivi um casamento de 30 anos (com Chico Buarque, de quem se separou em 1996), está bom. Tenho uma vida familiar intensa, são sete netos”.

Meu namorado e eu também temos netos. Esse é outro preconceito com o namoro. Como se apenas jovens pudessem ser namorados. Às vezes, nos olham de viés e não acreditam. Como se namoros tivessem prazo de validade para passar à outra etapa. Sabemos que, qualquer dia, esse namoro pode acabar – talvez só a consciência da precariedade do amor o salve.

O namoro quase acabou poucas vezes – quando o Botafogo goleou o Fluminense, ou vice-versa. Não assistimos juntos a embates diretos. Se um time cismar em humilhar o outro, naquela noite não nos vemos. O romance sofre sempre que ficamos junto demais e caímos na armadilha clássica dos maridos e mulheres que implicam, cobram e reclamam. E se tornam malas. Quantas infidelidades são cometidas por desinteresse, mau humor e possessividade! Olhem-se no espelho no Dia dos Namorados, mesmo os casados ou sozinhos, e se perguntem: qual meu índice de chatice no cotidiano?

A primeira dedicatória de um livro de poesias dele dizia: “Para Ruth, companheira das praias de maio”. Eu tinha 36 anos, ele 42. O único desejo era dar prazer um ao outro, no outono de 1991. Não era premeditado, tínhamos poucas ilusões. O amor persiste pelo tesão físico e intelectual. E pela cumplicidade que resiste às diferenças de dois temperamentos fortes. Sempre fugimos dessa história de se fundir. Ou se ferrar... Cara-metade é uma expressão assustadora. Quantos se redescobrem quando viram ex! Conseguem um habeas corpus para o livre agir e pensar. E se reconhecem no verso de Fernando Pessoa: “Há muito tempo que não sou eu”.

É duro suportar uma longa solidão, a irregularidade do sexo. Mas muitas relações não têm salvação. Em 2011, o número de divórcios no Brasil cresceu 45,6%, segundo o IBGE. Isso significa o fim de 351 mil casamentos num ano. O advogado Luiz Octavio Rocha Miranda disse ao jornal O Globo que os casais se divorciam por crise financeira, desemprego do marido, salário superior da mulher, incompatibilidade cultural. Mais que por traição. Dos 108 processos que comandou nos últimos dois anos, o casamento mais curto durou a lua de mel. Aumentaram também as separações de idosos. Um casal, junto há 49 anos, decidiu se divorciar. “Perguntei à mulher, octogenária, o motivo”, disse Miranda. “Ela disse: ‘Doutor, quero morrer feliz!’.”

As mulheres que não vivem com seus parceiros mantêm seu desejo muito mais aceso que as mulheres vivendo na mesma casa com os maridos. A conclusão é de um estudo com 2.500 voluntários, feito por um psicólogo alemão, Dietrich Klusmann. Por que será? Uma pista: os maridos param de enxergar suas mulheres, não as olham mais com vontade e fogo. E esse é um dos maiores afrodisíacos femininos: perceber que ele quer você (ou que ela quer você, nestes tempos de Daniela Mercury). Se virar móvel ou utensílio, não há libido que resista.

O poeta e escritor Paulo Mendes Campos, morto em 1991, escreveu um livro de crônicas chamado O amor acaba. Foi relançado em abril e esgotou em menos de um mês. Dizem que é porque o amor anda em alta. Mas quando esteve em baixa?

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