Blog de Augusto Nunes
Assim que começou a segunda semana de confrontos entre a Polícia Militar e grupos rebelados contra os 20 centavos amais nas tarifas de ônibus, Fernando Haddad trocou o cargo de prefeito pelo ofício de juiz de briga de rua.
Caprichando na pose de quem não lembra direito que o aumento foi decretado pelo poste que Lula instalou na prefeitura, o árbitro de conflitos urbanos estreou no saguão de um hotel em Paris. “A PM tem de seguir protocolo e um deles é manter vias expressas desimpedidas”, apitou a favor do time de farda.
Na terça-feira, enquanto a maior metrópole da América Latina convalescia de outro dia de cão, Haddad analisou a disputa que vigiara acampado numa suíte batizada de “sala de situação”.
“As pessoas não estão fazendo uso adequado da liberdade de expressão”, apitou contra os baderneiros. E insinuou que dali por diante agiria com rigor: “Pessoas inconformadas com o Estado Democrático de Direito passam a adotar outro tipo de postura: de provocação, intimidação, agressão e depredação”.
De volta ao Brasil na quinta-feira, aproveitou a quarta onda de turbulências para mostrar que o surto de coragem já passara. “A ação da PM foi exagerada”, apitou a favor dos devotos do vandalismo.
Em seguida, forçou o empate com a exibição do cartão amarelo aos homens da lei. “O ato foi marcado pela violência policial”, advertiu num fiapo de voz.
O árbitro de araque é que deveria ser imediatamente expulso de campo e obrigado, ainda no vestiário, a reaparecer no emprego que abandonou. A devolução ao local de trabalho de um poste que fala não vai resolver nenhum dos incontáveis problemas da cidade.
Mas ao menos seriam ligeiramente reduzidos o índice de covardia e a taxa de cinismo que envergonham São Paulo — e enojam o Brasil que presta.
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