sexta-feira, 1 de março de 2013

O Ato e o Fato.


Brasilino Neto
Brasilino Neto
“Abrem-se as cortinas, começa o espetáculo”, dizia sempre o lendário Fiori Gigliotti ao iniciar suas belíssimas narrações de jogos de futebol. 

Com sua voz sonora e envolvente fazia com que víssemos cada lance, cada cena dos jogos de futebol, como se estivéssemos diante de um televisor. Ele fazia de cada jogo um show de narração e imaginação de seus fãs. 

Ao final de cada narração sempre deixava uma mensagem positiva sobre a vida, sobre o esporte, de modo que ficávamos esperando a chegada do próximo final de semana, para novamente ouvir o chavão da “abertura das cortinas e do começo do espetáculo”. 

Porém
, ante os fatos havidos no jogo de Oruro, que resultou, tristemente, na morte do garoto Kevin Douglas Beltrán Espada, de apenas 14 anos, que deixara sua casa, com certeza, com o coração cheio de alegria em poder acompanhar um jogo do boliviano San José e do brasileiro Corinthians. 

Mas somente houve a alegria na ida, pois volta não teve, pois foi alvejado mortalmente no rosto por um artefato explosivo, que se destina a salvar vidas e não a matar. 

Isto porque são sinalizadores e utilizados por navegantes, que em caso de pane em seus navios ou barcos e ficarem à deriva os lançam, que viaja a uma velocidade de 360 km/h, atingindo alturas representativas e emitindo fumaças coloridas, de modo que possam ser visto por outras embarcações que transitem pela área, e consequentemente salvo. 

Este artefato, como dito, era para salvar vidas, mas infelizmente ceifou uma jovem delas, pondo fim aos sonhos e às esperanças tanto de Kevin como de seus amigos e familiares. 

Mas não só os que lhe são próximos foram atingidos, mas sim todos nós, pois ocorrência tal agride, como proclamou Emilè Durkheim (1858/1917), a “Consciência Coletiva”, pois advinda de um gesto sem justificativa que o ampare, sem qualquer senso de solidariedade e de respeito à comunidade em que vive. 

Que este Ato e Fato, embora saibamos estar pagando preço altíssimo de aprendizado, sirva para outros torcedores entenderem que nos estádios ao seu lado estão pessoas com sonhos, esperanças e desejos de felicidades, e em suas casas estão seus pais, amigos e familiares os esperando que voltem sãos e salvos e não envolvidos em pano mortuário. 

Fiori Gigliotti
Se Fiori Gigliotti estivesse aqui, certamente, encerraria tal jogo com a frase: “Fechamos as cortinhas e pomos fim a este triste espetáculo”. 

PS: Neste triste ambiente onde as discussões giram em torno de questões meramente materiais, com recurso e contra-recursos 
do que se haverá de fazer com o time corintiano, louvo a lucidez do Técnico Tite ao declarar que daria qualquer título para que a situação de Kevin Escada não tivesse ocorrido. É Tite, mas ficaremos somente no desejo.

Por Brasilino Neto

Um comentário:

Valenciano disse...

Parabéns ao articulista Brasilino pela lúcida e coerente análise, especialmente por trazer em sua matéria a gostosa lembrança de Fiori Giliotti.