terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Um Papa brasileiro


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Cansado de ficar cada dia mais à sombra da Presidente Dilma, sua pupila que depois de dois anos já caminha por conta própria nos taciturnos corredores do universo político brasileiro e reverbera, mesmo que discretamente, reclamações sobre uma inesperada herança maldita, fato que muito lhe magoa, o ex-presidente Lula viu na renúncia do Papa Bento XVI uma oportunidade de retornar de maneira triunfal aos holofotes; afinal, essa história de restringir-se a conselheiro de prefeito estava muito aquém de suas expectativas. 

Tão logo leu a notícia, telefonou para o seu assessor mais próximo:
‘ Você viu? O Bento renunciou! Eu quero ser o novo Papa!’
‘ Mas Presidente, isso não é possível! Você precisa ter uma carreira na igreja!’
‘ Fiz carreira no Sindicato dos Metalúrgicos, companheiro, nos tempos em que nós e a Igreja lutávamos contra a ditadura! Isso já deve servir. Sempre há um jeitinho para exceções! Chama o Duda! ‘

Receoso de se envolver em mais uma campanha eleitoral, depois do suplício do mensalão, onde terminou inocentado, Duda Mendonça tentou demover o ex-presidente de sua ideia:
‘ Presidente, essa não é a sua praia! Estamos falando da Igreja Católica, não se trata de um país ou cidade!”
‘ Você já viu quantas viagens um Papa faz? Eu quero estar lá, perto das comunidades carentes desse mundão, irei fazer um Bolsão Família para todos os países da África! Essa será minha plataforma de governo…digo…de Papado!’
‘ Mas, Presidente…!’

Em vão os amigos tentaram convencê-lo a desistir. Lula apostava na exceção. Ninguém acreditava que as Olimpíadas pudessem ser no Rio, e ele surpreendera a todos. Dilma e Haddad partiram de um traço nas pesquisas à vitória, graças a ele. Estava obcecado com essa nova oportunidade. De Presidente do Brasil a Papa. Calaria os analistas que diziam que ele seria candidato a governador. ‘Para baixo, jamais’, pensava. ‘Eu quero é mais! ‘.

Formalizou então uma petição ao Vaticano, solicitando que abrissem um precedente e que permitissem sua concorrência ao Papado. Registrou os mais diversos argumentos, reforçando o fato de que lutou junto com a Igreja contra a ditadura, que foi o primeiro operário proveniente das classes mais desfavorecidas a se tornar presidente do Brasil e que praticamente refundou o país, tornando-o uma potência emergente com voz ativa nos fóruns globais. Ressaltou que em sua gestão mais de 40 milhões de pessoas deixaram de ser pobres, e que nunca antes na história da humanidade um governo tinha abraçado tão veementemente a causa cristã. Todos esses feitos, em um período onde o mundo sucumbia ante o materialismo de uma sociedade mercantilista, eram suficientes para que o Vaticano considerasse a exceção. ‘ Eu prometo duplicar o número de fiéis em quatro anos’, finalizava a petição. Uma tremenda peça de marketing. Mesmo o mais católico dos cardeais poderia ser tentado a considerá-la.

Em nota explicativa, Lula sustentou que nunca soube de nada sobre o mensalão, e que no seu entendimento isso não passava de uma história criada pela mídia golpista, com apoio das elites inconformadas com a maior equidade social do Brasil. O Supremo havia se equivocado. Garantiu que José Dirceu não participaria de seu Papado, ‘Tem outros interesses no momento e estará cumprindo pena’ e que sua candidatura era apartidária, desvinculada do Partido dos Trabalhadores. ‘ Prometo ser o Papa dos pobres e aproximar ainda mais a Igreja do povo!’
A notícia de sua candidatura de exceção vazou na imprensa internacional e ganhou corpo no mundo. Alguns veículos formadores de opinião passaram a considerá- lo favorito na disputa.’ Lula já tem o apoio de todos os cardeais provenientes da África e América Latina’, destacava o New York Times. ‘Discurso de Lula convence cardeais italianos’, dizia o Corriere dela Serra. ‘ Só falta a aprovação da candidatura para Lula se tornar o novo Papa’, destacava o britânico The Times. ‘ Será a maior quebra de paradigma da história da Igreja’ , registrava o espanhol El País, dando como certa a eleição de Lula, que estava confiante. No círculo mais íntimo discutia apenas uma questão essencial: e se o Vaticano condicionasse sua candidatura ao celibato? Afinal, ele era casado e padres não casavam. A Igreja tampouco apoiava o divórcio, por isso não seria uma opção separar-se de Marisa. Esse era o único imbróglio para o qual ele não tinha solução…’ Se me derem uma chance’, pensou ele, ‘ me converto ao celibato…mas abro um escritório do Vaticano em São Paulo!’.

Ansioso pela resposta à petição, que não chegava, Lula desenhava as diretrizes do seu Papado. ‘Serei conhecido como Papa Luis I, o Papa do povo!’, dizia à sua equipe. ‘ Já tenho 60% do eleitorado comigo’. ‘ Calma, Presidente’, retrucavam seus amigos mais chegados: ‘ Ainda não formalizaram a sua candidatura’. Eis que a dois dias da eleição, o Vaticano se pronuncia…em conferência telefônica, os representantes da Igreja começam a conversa ressaltando que estavam todos lisonjeados com a proposição de Lula, um exemplo irretocável de cristão. Conversa vai, conversa vem, elogios para cá e para lá…até que finalmente eles sacramentam a negativa. A candidatura de Lula não fora aprovada. Decepcionado, Lula pergunta se o fato de ser casado teria influenciado a decisão. Ouviu que sim, era um dos motivos, mas o que mais pesou foi o fato dele ser monoglota. ‘ Um Papa fala ao menos cinco idiomas’.

Um Lula extremamente abatido foi imediatamente consolado pelo Vaticano, que amenizou a má notícia com uma alternativa: ‘ Sr. Lula, dada a impossibilidade de atender ao seu pedido, analisamos detalhadamente o seu currículo, e chegamos a conclusão de que apesar de não servir para Papa, o Sr. atende as exigências de canonização. Topas ser santo? São Luis Ignácio do Brasil? ‘

Do outro lado da linha, um Lula agora sorridente respondia: ‘ Reconhecimento justo! Eu aceito!’

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