O ex-ministro Antonio Palocci, preso desde o dia 26 de setembro do ano passado e já condenado por Sérgio Moro a uma pena de 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão, está negociando a sua delação premiada. Fazem o mesmo Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, também encarcerados. Consta que, em um dos anexos de sua alcaguetagem recompensada — quem sabe… —, o ex-ministro acusa Guido Mantega, seu sucessor na Fazenda, de algo gravíssimo: ele teria montado, calculem!, na repartição de São Paulo do Ministério da Fazenda, um centro para vazar — isto é: vender! — dados sigilosos ao setor financeiro.
O esquema teria começado em 2006, ano da reeleição de Lula, e vigorado até a demissão de Mantega, o que se deu só em 2015. O acusado nega tudo e diz que o homem que representava o setor financeiro no governo era justamente… Antonio Palocci! E qual o objetivo da coisa? Segundo o petista quase-delator, Mantega antecipava medidas que o governo adotaria para que os “compradores” do serviço pudessem se precaver de eventuais perdas. Em troca, davam apoio, inclusive financeiro, ao PT.
Se a coisa aconteceu, não custa notar: Mantega, obviamente, tem de ser acusado de corrupção passiva, e os que compravam o “serviço”, de corrupção ativa. E pouco importa se o então ministro da Fazenda fazia a lambança para enriquecimento pessoal ou não.
Ao dar relevo à tese de que era Palocci “o homem do mercado financeiro”, Fábio Tofic Simantob, advogado de Mantega, afirma que seu cliente “assumiu sempre posições que desagradavam os bancos, a ponto de ser demonizado”. E acrescenta: não houve pessoa mais execrada pelo mercado do que Mantega. A informação, por isso, não faz nenhum sentido”.
Parte do que fala Simantob é mesmo verdade. O homem “dos mercados”, que não gostavam der Mantega, era Palocci. Mas isso não implica que Mantega estivesse impedido de montar a tal central, até porque foi ele o longevo comandante da Fazenda: de 27 de março de 2006 até 1º de janeiro de 2015. Suas escolhas técnicas conduziram o país à pior crise de sua história.
Mas foi mesmo assim?
Bem, meus caros, nesse caso e em qualquer outro dessa natureza, olho a delação sempre com muita precaução. O caso Joesley Batista (e seus bandidos auxiliares) servem de advertência eloquente de que nem sempre o Ministério Público Federal e o delator estão atuando a serviço da revelação da verdade.
Se aconteceu o que Palocci estaria disposto a revelar em sua delação, a coisa é de uma gravidade extrema. Uma Medida Provisória assinada pelo governo petista resultou, por exemplo, efetivamente, em R$ 2 bilhões em benefícios fiscais para a Brasken. Segundo Marcelo Odebrecht, uma compensação de R$ 50 milhões — propina— foi repassada ao caixa do partido. Por que faço essa lembrança?
Porque esse é um crime muito mais grave e muito mais perigoso do que simplesmente roubar. Baixar uma Medida Provisória para beneficiar um grupo significa mais do que receber uma propina: trata-se de corromper uma política de estado. E o mesmo teria feito Guido Mantega, segundo Antônio Palocci.
O Ministério Público Federal conta também com a possibilidade de Palocci confirmar a delação de Marcelo Odebrecht, segundo quem Lula seria beneficiário de uma espécie de conta corrente no grupo. Vamos ver.
Nota à margem
Curioso… Enquanto ambos estavam no governo, Palocci e José Dirceu disputavam o estrelato. O primeiro venceu praticamente todos es embates.
Palocci sempre foi considerado a voz de Lula no governo e no PT. Dirceu nunca gozou dessa condição. Ao contrário: os dois nunca foram realmente próximos. O Babalorixá tende a não gostar de gente que se mostra excessivamente cerebrina, calculista. E via isso em Dirceu. Palocci, “o homem dos mercados”, ah, este era do coração de Lula, sim!
Pois é… Na hora de a batata assar, parece que Palocci, o íntimo, quer botar a boca no trombone. Já o Zé… Não delatou uma mosca; faz discursos redentores e antevê a volta do PT ao poder. E seus admiradores gritam: “Herói do povo brasileiro”.
E nós pensamos: “Pesadelo!”
Ah, sim: os golpistas pensem com vagar. Ainda falta a bomba Palocci. E já deu para perceber que território ela ameaça: os bancos. Não parece prudente brincar de incendiário com Rodrigo Janot.
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