sábado, 22 de julho de 2017

Deltan Dallagnol fala bobagem gigantesca e é incensado pela revista “Época”


Ele tem a língua sabidamente comprida e ideias não muito democráticas na cabeça

Boa parte dos males do mundo decorre da perda de parâmetro. A democracia, por exemplo, é paramétrica. Ela só existe porque se levam em conta a norma, o padrão, o critério. E isso também vale, por óbvio, para o Ministério Público e para a imprensa.

O site da revista “Época” publica um texto cujo título é mais uma evidência da campanha que move o grupo Globo, em parceria com páginas de extrema-direita e com grupos de esquerda, para depor o presidente Michel Temer. Nunca antes na história destepaiz se odiou tanto o centro. Título da reportagem: “Coordenador da Lava Jato no Paraná provoca Temer”. E o subtítulo: “O procurador Deltan Dallagnol ironizou comentário do presidente sobre tolerância do brasileiro a aumento de tributos”.

Ambos renderiam, por si só, ainda que desacompanhados do texto, um tratado de deontologia nos cursos de jornalismo. Não haverá porque, no caso, o procurador das faces rosadas está pegando no pé de Temer. Fosse o presidente um esquerdista, haveria alguma chance…

Então ficamos assim: tem-se como dentro dos parâmetros (como padrão, como critério de avaliação de eficiência) o fato de um procurador, que exerce uma função de Estado e coordena uma operação com óbvios desdobramentos econômicos e políticos, “provocar” o presidente.

Notem que ele não “contesta” o chefe do Executivo, o que já não seria paramétrico porque, quando menos, fosse o caso, deveria fazê-lo o procurador-geral da República. E só seria admissível se a questão dissesse respeito a algo afeito à PGR. Como cidadão, o sr. Dallagnol pode pensar o que quiser. Ocorre que ele é o coordenador da Força Tarefa. É como tal que ele fala. Tanto é assim que tal condição foi parar no título da matéria, não? Digam-me: o que este rapazola tem a ver com a decisão tomada pelo presidente? Quem fala ali é o militante político, apontado como pré-candidato ao Senado, talvez pelo Podemos, que hoje tem o senador Álvaro Dias (PR) como um presidenciável.

O procurador, de fato, provoca. Como um moleque birrento. A sua abordagem é mesmo uma molecagem. Destaque-se que ele não “responde” ou “objeta”, mas “ironiza”. Por óbvio, aquele que recorre à ironia considera-se acima do seu opositor. Faz sentido! O Ministério Público Federal não se vê num patamar superior ao próprio Estado. Fala como quem triunfa sobre a nossa pobre humanidade.

O texto

Aí o texto de Época registra o que escreveu Dallagnol, cada vez mais candidato ao Senado, em sua página no Facebook:
“Desviam 200 bilhões por ano praticando corrupção; deixam de aprovar no Congresso medidas anticorrupção; gastam mais do que devem inclusive via emendas milionárias para parlamentares a fim de comprar o apoio parlamentar para livrar Temer da acusação legítima por corrupção; e agora querem colocar a conta disso tudo no nosso bolso, aumentando impostos”.

A soma de vigarices intelectuais que vai em trecho tão curto é assombrosa. Em primeiro lugar, esses “R$ 200 bilhões” que seriam drenados todo ano pela corrupção é um número mágico, saído de lugar nenhum. Com os mesmos critérios com que a ele se chegou, poder-se-ia ter chegado a R$ 400 bilhões ou a R$ 40 — sim, quarenta reais. É mero chute. Mas que é brandido por aí como verdade sagrada. No debate do Roda Viva, da TV Cultura, de que participei, a cifra foi citada pela procuradora Thaméa Danelon, que prestou reverência, diga-se, a seu buliçoso colega do Paraná, fazendo, igualmente, a defesa das 10 medidas.

Lembrei, no debate de segunda, e o faço aqui de novo, que ao menos quatro das dez medidas seriam típicas de um regime fascista de esquerda ou de direita. Ela quis saber quais eram. Respondi e relembro aqui: a quase extinção do habeas corpus, a ampliação absurda dos casos de prisão preventiva, o teste aleatório de honestidade e admissão de provas ilícitas “de boa-fé”.

Irresponsável

O que a opinião irresponsável de Dallagnol esconde? Eu revelo. O déficit fiscal, a ser minorado pelo aumento do imposto, estaria aí ainda que o país fosse governado por anjos, se a relação entre receita e despesa que temos, herança maldita do governo petista, fosse a mesma. Dallagnol sabe que essas contas não se misturam. Ou deveria saber ao menos. Como lembrei a Thaméa, um também chute estratosférico sobre o custo da corrupção na Petrobras chega a R$ 45 bilhões. É o máximo que ousam imaginar. Só a política irresponsável de preço de combustíveis de Dilma gerou um prejuízo de R$ 70 bilhões à Petrobras.

Dallagnol repete o raciocínio infantil, simplista, expresso naquele dia pela procuradora — estamos diante de uma “escola de pensamento”. Como é mesmo? “Os países em que há menos corrupção são mais desenvolvidos”. Com a devida vênia, há aí uma relação energúmena de causalidade. Faz supor que, se zerássemos a corrupção, teríamos necessariamente desenvolvimento. É uma estupidez. Um Brasil cem por cento honesto que se negasse a mudar as regras da Previdência estaria quebrado do mesmo jeito. Vamos fazer de conta, para efeito de raciocínio, que ninguém tungou a Petrobras na era petista: o rombo de R$ 70 bilhões teria sido igualmente produzido. A honestidade é um dever moral, é uma imposição ética, mas nunca foi nem nunca será sinônimo de eficiência.

Existe, sim, uma correlação, não mais do que isso, entre corrupção e desenvolvimento. Países com uma institucionalidade mais avançada e com mecanismos mais transparentes são menos corruptos. Mas calma! Como já escrevi neste blog umas 200 vezes, para que a corrupção deixe de nos assombrar, é preciso reduzir drasticamente o tamanho do Estado, que nem precisa ser redução do tamanho do governo. Privatizem-se as estatais, e a roubalheira despenca. Querem ver: se a Vale, a Embraer e todo o sistema de telefonia continuassem em mãos estatais, haveria mais corrupção ou menos no país?

Punir bandidos, sem dúvida, é algo importante — em vez de lhes conceder a imunidade quanto mais imundos se mostram. É uma questão de Justiça. Mas o combate à corrupção só vai avançar para valer quando o Estado for menor.

É claro que um procurador como Dallagnol jamais vai dizer isso. Afinal, ele quer justamente o contrário disso. O MPF, ente ao qual pertence, já se manifestou contra a reforma da Previdência, contra a reforma trabalhista, contra a terceirização, contra o teto de gastos… Querem um Estado gigantesco porque pretendem se assenhorear dele.

Encerro

Da reportagem à fala de Dallagnol, tudo é vergonhoso. Sua abordagem deveria ter sido repudiada pela revista, não incensada. E assim deveria ser porque 1) as relações que ele estabelece são essencialmente falsas; 2) não cabe a um procurador fazer arbitragem nas redes sociais sobre medidas adotadas pelo Executivo.

A PROPÓSITO: o coordenador da Força Tarefa, que não sai das redes sociais, não negou ainda de forma peremptória e irreversível que seja candidato ao Senado, né? Para quem opina sobre até espinhela caída, parece um silêncio sintomático. Não que eu seja do tipo que exige produção de prova negativa… Isso é com a Força Tarefa de Curitiba. Ocorre que não estamos tratando de matéria penal, né?

Se há dolo, é do tipo que não rende cana: é o dolo político. Mais um.

Por Reinaldo Azevedo

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