A nova fase da Operação Lava Jato expôs o tamanho do racha entre o Ministro Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) em Curitiba. Em ofício encaminhado ao juiz Sergio Moro nesta quinta-feira, o delegado Filipe Hille Pace afirmou com todas as letras que a PF só foi informada das investigações contra o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine após o pedido de instauração do inquérito feito pelo MPF ser vazado à imprensa. Pace reclamou ao juiz que as investigações foram iniciadas “sem amparo policial”, de maneira unilateral.
O novo atrito entre os dois órgão começou no dia 9 de junho, após a imprensa publicar que MPF havia pedido a Moro a abertura da instauração de um inquérito para investigar Bendine. Os delegados que atuam no caso Lava Jato não gostaram de saber pela imprensa do pedido e questionaram ao magistrado se era realmente necessária a participação da PF nas investigações: “esta autoridade policial soube da existência da requisição ministerial por veículos de comunicação, ou seja, antes mesmo da referida determinação ser formalmente encaminhada para instauração. Tal fato, por si só, já esgota a eficácia plena da pretendida investigação”.
Desde o ano passado, a relação entre os dois principais pilares da Lava Jato não é mais a mesma. Os problemas se agravaram durante as colaborações da delação da Odebrecht, nas quais a PF foi deixada de lado na mesa de negociação. A insatisfação fez com que parte do efetivo abandonasse as investigações e a força tarefa na Polícia Federal começou a ser desmobilizada. No início do mês, a Superintendência da PF encerrou oficialmente o grupo de trabalho exclusivamente dedicado à Lava Jato em Curitiba.
O ex-coordenador da força-tarefa na PF, delegado Igor Romário de Paula, minimizou a divergência exposta no ofício encaminhado por Pace durante coletiva esta manhã para falar da nova fase da Lava Jato: “O fato do pedido ter sido feito pelo Ministério Público ou pela Polícia é irrelevante. Os dois atuam da mesma forma, tem suas competências para investigar”. Nos bastidores, contudo, o sentimento é outro. A PF e o MPF cancelaram as reuniões semanais que existiam no início da Lava Jato e passaram a se comunicar protocolarmente.
As forças-tarefa da “Lava Jato original” eram duas. A primeira era o grupo de trabalho da Polícia Federal, desfeito recentemente. A segunda é um grupo de procuradores da República, chefiado por Deltan Dallagnol, que continua atuando conjuntamente. A Polícia Federal informou oficialmente que os policiais dedicados exclusivamente à Lava Jato vão integrar, a partir de agora, a Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas. A integração, segundo nota oficial, foi iniciativa de Igor Romário de Paula. “A medida visa priorizar ainda mais as investigações de maior potencial de dano ao erário, uma vez que permite o aumento do efetivo especializado no combate à corrupção e lavagem de dinheiro e facilita o intercâmbio de informações”, afirmou a Polícia Federal em nota à imprensa. Durante a coletiva, o procurador Athayde Ribeiro fez críticas ao fim da força-tarefa da PF.
“A diminuição do efetivo é uma responsabilidade do Ministro da justiça e do delegado geral (da Polícia Federal). O ex-ministro da Justiça Alexandre de Morais, quando no cargo, visitou a força tarefa da Lava Jato em Curitiba e se comprometeu em fortalecer a Lava Jato. O atual ministro não fez o movimento neste sentido. Ele sequer consultou a força tarefa sobre o quanto de investigação tinha e quanto de necessidade de efetivo havia”, afirmou o procurador.
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