terça-feira, 18 de julho de 2017

Joesley fez gato e sapato de Janot... Quem conta? O próprio Janot!



Foi vergonhosa, sob muitos aspectos, a exposição que Rodrigo Janot fez no Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington. O procurador-geral da República deixava claro a incapacidade de investigar que caracteriza o gigantesco ente a que ele pertence. Sim, o homem disse com todas as letras — e olhem que nem assim acredito nele — que foi chantageado por Joesley Batista e sua gangue.

Afirmou ele:

“Essas pessoas procuraram agentes do Ministério Público para oferecer a possibilidade de um acordo penal. E envolviam altíssimas autoridades da República. A primeira reação nossa foi dizer ‘isso é mentira, não acredito que isso esteja acontecendo, é inacreditável que a prática continue de maneira aberta’” E acrescentou: “Em toda a negociação, esses sujeitos diziam à gente que não abriam mão de imunidade (…) E ofereciam takezinhos de algumas gravações”.

Notem: se a coisa tivesse ocorrido como diz este senhor, já estaríamos diante de um descalabro. Então um bandido que cometeu 245 crimes, o verdadeiro comandante de uma organização criminosa, aproxima-se do procurador-geral para dizer (na versão do próprio procurador-geral, a quem empresto mais realismo): “Olhe aqui, sou mesmo um safado, um vagabundo, compro todo mundo, quase dois mil políticos estão no papo. Vocês estão investigando algumas das minhas safadezas. Deem-me a imunidade total, e eu vou lhes dar a cabeça do presidente da República e de um senador (Aécio Neves), presidente do principal partido que se opôs ao PT ao longo de 13 anos”.

E Janot fez o quê? Ora, segundo ele próprio, topou. Achou que a coisa estava bem, que estava certa.

Assim, atenção você, que é um canalha, um safado, um meliante moral. Trate de ir produzindo provas contra seus parceiros, entendeu? Depois procure algum discípulo de Janot.

Se a história fosse mesmo essa, já seria nojenta o suficiente. Mas se sabe que não é. Um advogado de Joesley teve aula de delação com um auxiliar de Janot 15 dias antes da gravação. O que veio depois tem todas as características de flagrante armado.

A exposição de seu método de trabalho já deveria bastar para que se pensasse seriamente no impedimento de Janot, não estivesse ele perto de deixar o cargo. Mas há mais: em sua primeira denúncia, ele acusa o presidente Michel Temer de corrupção passiva, com possível lavagem de dinheiro. A peça é inepta porque não há evidência de que a grana recebida por Rocha Loures fosse destinada ao presidente.

Mas todos sabemos que a questão que abalou a República nem foi essa. O vazamento que pôs em polvorosa o país assegurava que Michel Temer havia condescendido com a compra do silêncio de Eduardo Cunha. Como se viu, isso não está na gravação. E o que disse o sr. Janot sobre a acusação de que Temer teria obstruído a investigação?

Ah, ele disse não estar com pressa. Acrescentou: “Se alguma investigação estiver madura até 15 de setembro [quando encerra o mandato e Raquel Dodge assume], eu ofereço a denúncia”.

Ah, então não existe ainda a prova. E o que Janot está esperando?

Bem, até o lobo guará, se ainda desse pinta em Brasília, seria capaz de dar a resposta: sem ter como evidenciar, só com Joesley, que Temer tentou obstruir a investigação, ele aposta agora numa delação de Eduardo Cunha ou de Lúcio Funaro para que possa tentar derrubar o presidente numa segunda rodada.

A isto está reduzido o país e a isto se resume, como é mesmo?, um combate à corrupção como nunca houve antes na história “destepaiz”, a exemplo do que dizia certo ex-presidente. Na versão do procurador, que já está edulcorada, aquele que seria certamente o maior criminoso de todos os tempos do país se aproxima do chefe do MPF e começa a instigá-lo com pedacinhos de gravação. E aí chantageia: “Quer mais? Então me dê imunidade total”. Com preguiça de investigar, a autoridade, então, lhe concede o que quer, deixando-se sequestrar pelo marginal.

Inicialmente, o chefe do MPF deixa vazar a informação de que denunciará o presidente por corrupção passiva e tentativa de obstrução da investigação. Mas ele decide fatiar a denúncia porque agora aposta nas acusações decorrentes da concorrência que abriu entre Cunha e Funaro para saber qual bandido acusará o presidente com mais verossimilhança ao menos.

Raquel Dodge, que vai assumir a Procuradoria Geral da República, tem uma dura tarefa pela frente: levantar o MP dos escombros a que o reduziu a incompetência arrogante e delirante de Rodrigo Janot.

Por Reinaldo Azevedo

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