A condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro é um marco do Brasil pós-Lava Jato. Lula poderia ter sido uma espécie de Nelson Mandela brasileiro. Mas optou por entrar para a história como parte do detrito que transformou a política numa gincana de ineditismos. No instante em que a Câmara analisa o caso de Michel Temer, o primeiro presidente da história denunciado por corrupção no exercíco do cargo, Moro empurra para dentro da biografia de Lula um título vergonhoso: primeiro ex-presidente da história sentenciado como corrupto.
A história brasileira parece ter pretensões literárias. No futuro, quando tiver que relatar o que ocorre agora, a posteridade certamente buscará paralelos na dramaturgia grega. A verdade estará no exagero. A trajetória de Lula será descrita como uma espantosa sequência de fatos extraordinários vividos por um mito que escolheu transformar-se num político ordinário, como tantos outros.
Houve um tempo em que os crimes de colarinho branco não acabavam em castigo. Acima de um certo nível de poder e renda no Brasil, nada era tão grave que justificasse uma reprimenda. A chegada da faxina à biografia do político mais popular do país, primeiro colocado nas pesquisas presidenciais, tem a aparência de uma virada de página. O impensável aconteceu. E continuará acontecendo. O PT organiza atos de desagravo que serão comícios disfarçados. Mas no momento Lula está mais próximo da cadeia, que virá se a sentença for confirmada na segunda instância, do que das urnas.
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