segunda-feira, 29 de maio de 2017

Manifestação no Rio foi uma patuscada reacionária e antipobre



“Ozartistas” são uma categoria política e ideológica que surgiu no Brasil durante a ditadura, cujo auge foi a “Passeata dos Cem Mil”, ocorrida no Rio no dia 26 de junho de 1968. Sim, o país vivia uma ditadura, ainda algo envergonhada. No dia 13 de dezembro daquele ano, o governo baixou o AI-5. E veio a ditadura sem-vergonha.

Muito bem! “Ozartistas” tomaram para si, durante o regime militar, a tarefa de criar metáforas e simbolismos de resistência. Compreensível. Não havia muita coisa a fazer: uns recorriam a bombas, que matavam também inocentes, outros cantavam figurações prenhes de melancolia ou de amanhãs que nos salvariam. Como esquecer “Rosa dos Ventos”, de Chico Buarque: “E na gente deu o hábito/ De caminhar pelas trevas/ De murmurar entre as pregas/ De tirar leite das pedras/ De ver o tempo correr”.

O Brasil mudou

Sabem quem era uma das pessoas da linha de frente da passeata de 1968? Caetano Veloso! Sabem quem liderou a patuscada no Rio, neste domingo? Caetano Veloso. Ele tinha, então, 25 anos. Está agora com 75. Entre as duas pontas, 49 anos! Arredondemos para 50.

Os organizadores anunciaram a presença de 100 mil pessoas. Eles costumam multiplicar suas manifestações por no mínimo cinco. Assim, é possível que lá estivessem de 20 mil para menos.

O Brasil mudou.

O Brasil não é uma ditadura.

O Brasil não é uma tirania.

O Brasil é uma democracia — hoje ameaçada, sim.

O Brasil ainda tem instituições.

Mas “Ozartistas” estão na mesma!

É evidente que os ditos-cujos têm o direito de se manifestar, não é? Como quase todos “ozartistas” que conheço, eles têm soluções simples e erradas para problemas difíceis — fosse em 1968, seja em 2017. Mas, há 50 anos, a ditadura emprestava legitimidade política à manifestação, já que se estreitavam os espaços para o protesto pacífico. Vivia-se um regime de exceção.

Hoje não!

“Ozartistas” eram o chamariz de uma manifestação convocada pelas mesmas forças que protagonizaram o protesto de Brasília, na quarta, dia 26, a saber: centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Sem medo? Viu-se que não se manifestou nem mesmo o medo de praticar atos que, em qualquer democracia, seriam considerados terroristas.

E não me venham com a conversa mole de que aquele espetáculo de selvageria, com a depredação de nove ministérios — um deles incendiado — nada tinha a ver com os manifestantes. Essa é a cascata de sempre das esquerdas. Até hoje, não há “companheiro” que consiga explicar por que não houve um só incidente nos atos em favor do impeachment.

É preciso que se considere, sim, que “Ozartistas” que se manifestaram neste domingo, no Rio, estavam, na pratica, endossando as brutalidades cometidas em Brasília, na quarta, por fascistas de esquerda.

Querem “Fora Temer”? Muito bem! É uma reivindicação. Há caminhos legais para isso.

Querem “diretas já”? Aí estão pedindo para rasgar a Constituição. O Artigo 60 da Carta, que é cláusula pétrea, não permite.

Querem “o fim das reformas”? Bem, isso significa que os “Ozartistas” pretendem, na prática, punir os pobres e os desdentados, que hoje arcam com o custo multibilionário das aposentadorias dos servidores.

(Caetano Veloso e Gilberto Gil na Passeata dos 100 mil de 1968. Protesto de
 agora não passa de uma patuscada reacionária / Imagem: Arquivo)

Os çábios

Não é que Caetano Veloso julga ter a resposta para o Brasil. Além deles, outros pensadores qualificados da economia e da política se fizeram ouvir, como Otto, Mart'nalia, Teresa Cristina e Mosquito — desse, então, nunca nem tinha ouvido falar. Fiquei sabendo hoje que estava entre “Ozartistas”.

E, claro, discursaram também patriotas como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ); a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ); o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), um dos bibelôs da esquerda do complexo “Leblon-Copacabana-Ipanema”; o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O que eles todos têm em comum? Lutaram contra o impeachment de Dilma. Tivessem triunfado, estaríamos agora comendo a grama seca do desastre econômico, político e também moral do governo petista.

Molon (ex-PT) e Randolfe (ex-PSOL) são a cara da “modernidade” de Marina Silva, aquela que se diz favorável às reformas, embora o único senador do seu partido lute bravamente contra ela, e um de seus quatro deputados também seja contra.

Silêncio

Conhecidos meus que foram ao evento dizem que não se falou uma única vez da sem-vergonhice moral que foi o acordo celebrado entre Ministério Público e STF (Edson Fachin) com o patriota Joesley Bastista. Nada! Nesse particular, aqueles moralistas são lava-jatistas fanáticos. Afinal, todos ali estavam aplaudindo o espetáculo de ilegalidades conduzido por Rodrigo Janot e Fachin, com vistas a derrubar Michel Temer.

Em 1968, o magricela Caetano Veloso e os demais artistas tinham a razão moral: estavam enfrentando uma ditadura. Em 2017, eles vão às ruas para coonestar as ilegalidades de Janot, os privilégios a Joesley e as safadezas do regime de aposentadorias, que pune os pobres e privilegia os endinheirados.

Em 1968, “Ozartistas” eram, digamos, “progressistas” (e não tomo a palavra como sinônimo de “esquerdistas”). Em 2017, são reacionários. Querem que o Brasil ande para trás.

Que país eles querem? Talvez aquele que Caetano meteu na música “Podres Poderes”:

“Ou então cada paisano e cada capataz/

Com sua burrice fará jorrar sangue demais/

nos pantanais, nas cidades/

Caatingas e nos gerais”

Foi um ato vergonhoso, isto sim, contrário aos interesses de muitos milhões de brasileiros pobres.

Por Reinaldo Azevedo

Um comentário:

AHT disse...

- Não esquecemos?
- Não.
- E também ainda não aprendemos?
- Não

Editei esse vídeo: "Daquela Juventude Aos Adultos Nos Podres Poderes Público-Privado" ➡ https://youtu.be/BKZEYf65ZFU

Grato,

AHT