Fui demitido da Embratel, a antiga estatal de telecomunicações, em 1999. Tinha R$ 1.400 no FGTS. O pagamento cairia em duas vezes. Na primeira, tudo certo. Fui até a agência e saí com R$ 700. Na segunda, o monstro Brasil apareceu. Um burocrata zumbi da Caixa interpretou que uma das 20 assinaturas do contrato de recisão estava fora de lugar. Então não, eu não poderia receber os outros R$ 700.
Argumentei que, se eu já tinha sacado a metade, era porque estava tudo certo, e que eu tinha direito e tal e tal. Ele levantou a voz, levantei mais alto e terminei escoltado para fora da agência pelos seguranças.
Resultado: os R$ 700 ficaram presos lá, numa conta inativa do FGTS. Agora que o governo vai liberar o saque das contas inativas, fui ver o extrato da Embratel. Aqueles R$ 700 viraram R$ 1670.
Se eu tivesse sacado na época e investido em títulos públicos dos mais conservadores, que pagam a Selic, os R$ 700 de 10 anos atrás teriam virado R$ 7.400.
O Estado, na prática, me confiscou R$ 5.750 – a diferença entre os R$ 1.650 que vai me pagar e os R$ 7.400 mil que deveria ter pagado.
Uma parte desses virtuais R$ 7.400 ganhou forma real: terminou nas mãos de empresas amigas do governo (de todos os governos dos últimos 20 anos), na forma de empréstimos alimentados com recursos do FGTS. Um naco desse dinheiro, então, retornou na forma de propina para agentes que intermediavam o acesso a esses recursos, como o Doutor Eduardo Cunha.
No fim, um naco do dinheiro que eu deveria poder sacar a partir de fevereiro, com a bem-vinda alforria das contas inativas, foi gasto em estação de esqui no Colorado, joalheria em Nova York e restaurante em Paris. Uma parte deles até repousa agora mesmo em Genebra, na forma de gloriosos francos suíços.
Muito chique esse meu dinheiro. E não adianta reclamar, se não chamam de novo o segurança.
Antes de votar em 2018, enfim, veja se o seu candidato tem alguma proposta coerente sobre como resolver a questão do FGTS. Se ele não tiver, é porque não faz a menor ideia sobre como resolver questão nenhuma.
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