Lançado na noite de terça-feira, o museu virtual do Instituto Lula, chamado de ‘Memorial da Democracia’, tem a pretensão de contar a “história das lutas do povo brasileiro pela liberdade e pela justiça social”. Pratica, porém, uma historiografia caolha. Só vê a metade. O acervo do site omite dos fatos históricos todos os grandes erros e os escândalos protagonizados pelo PT.
Por ora, o museu aberto pelo Instituto Lula na internet oferece como acervo um vídeoe duas “linhas do tempo” com ilustrações: 1964—1985 e 1985—2002. Nelas, recorda-se que a eleição indireta de Tancredo Neves pôs fim a uma ditadura militar de 21 anos. Mas omite-se o fato de que o PT se recusou a participar desse momento histórico, abstendo-se de comparecer ao colégio eleitoral.
Quem visita o memorial do Instituto Lula fica sabendo que a Constituinte de 1988 resultou numa nova constituição cujo texto serviu de base para a transição do Brasil para a democracia. Mas não há no museu virtual uma mísera informação sobre o fato de o PT ter se recusado a subscrever a Carta que Ulysses Guimarães chamou de “Constituição Cidadã”.
O museu petista reconhece que foi graças ao Plano Real que o Brasil venceu a batalha contra a inflação. Esquece de mencionar, porém, que o PT votou contra as medidas lançadas sob Itamar Franco e implementadas no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. De resto, cuida de diminuir o feito com observações pouco lisonjeiras.
Coisas assim: o Real “foi uma conquista importantíssima, mas infelizmente na cartilha do neoliberalismo, dominante na época, o povo não passava de um detalhe…” Ou assim: o Plano Real “foge do script dos anteriores e estabiliza a moeda, mas o país paga um alto preço.”
O museu é pródigo nas menções desairosas sobre a era FHC. Apresenta os dois governos tucanos como uma época de escândalos —do caso Sivam à compra de votos da reeleição—, de privatizações danosas, de generosidade com os bancos e de ruína econômica e social.
“Era o país do desemprego, baixos salários, falta de oportunidades, confinamento da população pobre e preta nos guetos. Foram tempos de grande bronca social e forte revolta política. O Brasil parecia estar à beira do abismo. Mas graças à democracia encontrou forças para avançar…”
Em contraposição a tudo isso, a chegada de Lula ao poder é esquematicamente apresentada como uma espécie de portal de acesso ao Éden: “Em 2002, o país elegeu o primeiro operário. E reelegeu em 2006. Em 2010, também pela primeira vez em nossa história, entregou a uma mulher o comando do país. Ela foi reeleita em 2014. Tempos de esperança, tempos de oportunidade, tempos de mais democracia…”
Por mal dos pecados, o museu virtual do Instituto Lula, por zarolho, ainda não enxergou a história dos governos petistas. Seu relato se encerra na posse de Lula. O texto do último quadro da linha do tempo conclui, enigmático: “Mais democracia, mais oportunidades. Em breve aqui.” E nada de mensalão. Nem sinal do bordão “eu não sabia”. Nenhum vestígio da passagem da cúpula do PT pela cadeia. Nenhuma menção à pilhagem da Petrobras, ao estelionato eleitoral de 2014 e ao fiasco gerencial de Dilma.
Há outras excentricidades no acervo. Cita a gestão de Celso Pitta na prefeitura de São Paulo, “marcada pela corrupção”, como o início do “declínio do malufismo”. Menciona também o impeachment de Fernando Collor. Só não diz que Paulo Maluf e Collor tornaram-se heróis da resistência dos governos petistas. Collor foi além: virou sócio do petismo na pilhagem da Petrobras.
Por Josias de Souza
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