sábado, 2 de novembro de 2013

O ATO E O FATO


Brasilino Neto
Ode (poema lírico) às vítimas de 'balas perdidas', especialmente a Caio Silva Costa, 8 anos, atingido dia 31 de outubro de 2013.

Tá, tá tá tá, tá ...!

O barulho foi aterrador
temeroso,
angustiante. 

eram tiros,

deram tiros ...

Era uma bala perdida

E em segundo um corpo estirado no chão

Era um garoto que amava a vida 

amava ... 
... não ama mais

Só resta o choro
A incompreensão
a tristeza
da mãe que o conduzia pelas mãos
no caminho da igreja,
do catecismo
que lhe mostraria quais (bons) caminhos deveria seguir

... deveria, 

Mas não poderá mais seguir

seu corpo inerte 
aguardará horas e horas sob o sol escaldante 

até que alguma ‘autoridade’ que se digne permitir sua remoção

(pois a dignidade, pensam eles, somente a eles pertence)

para sua última visita à casa materna/paterna
onde recebia carinho e amor,

recebia ...

É ...
foi uma bala perdida
Diz a ‘autoridade’.

É ...

Não é a bala que é perdida
Mas sim a vida em tenra idade 
Os sonhos
As esperanças
O amor que em vida lhe caberia

O futuro ...
Ah! o futuro ...
não mais virá.

Tudo acabou!
O corpo daquela criança continua ao chão
Estirado e escaldado pelo sol

E a mãe (inconsolável) chorando
Num olhar vago
Mira o infinito,
sem nada compreender

(nem mesmo poderia compreender)

nada mais lhe resta!

Chore sim Mãe a perda que lhe é imposta por, segundo diz a ‘autoridade’, uma bala perdida.

Chore Mãe, pois nada mais pode lhe consolar.
Chore para que sua dor se esvaia pelas lágrimas. 

Chore! 

Simplesmente!


Por Brasilino Neto

2 comentários:

1,2,3 disse...

Emocionante. Uma pena que esta seja nossa realidade.

Paulo L. disse...

Brasilino parabéns por ter assumido a presidência da Academia de Letras de Caçapava e por esse bonito texto.