Brasilino Neto |
Ode (poema lírico) às vítimas de 'balas perdidas', especialmente a Caio Silva Costa, 8 anos, atingido dia 31 de outubro de 2013.
Tá, tá tá tá, tá ...!
O barulho foi aterrador
temeroso,
angustiante.
eram tiros,
deram tiros ...
Era uma bala perdida
E em segundo um corpo estirado no chão
Era um garoto que amava a vida
amava ...
... não ama mais
Só resta o choro
A incompreensão
a tristeza
da mãe que o conduzia pelas mãos
no caminho da igreja,
do catecismo
que lhe mostraria quais (bons) caminhos deveria seguir
... deveria,
Mas não poderá mais seguir
seu corpo inerte
aguardará horas e horas sob o sol escaldante
até que alguma ‘autoridade’ que se digne permitir sua remoção
(pois a dignidade, pensam eles, somente a eles pertence)
para sua última visita à casa materna/paterna
onde recebia carinho e amor,
recebia ...
É ...
foi uma bala perdida
Diz a ‘autoridade’.
É ...
Não é a bala que é perdida
Mas sim a vida em tenra idade
Os sonhos
As esperanças
O amor que em vida lhe caberia
O futuro ...
Ah! o futuro ...
não mais virá.
Tudo acabou!
O corpo daquela criança continua ao chão
Estirado e escaldado pelo sol
E a mãe (inconsolável) chorando
Num olhar vago
Mira o infinito,
sem nada compreender
(nem mesmo poderia compreender)
nada mais lhe resta!
Chore sim Mãe a perda que lhe é imposta por, segundo diz a ‘autoridade’, uma bala perdida.
Chore Mãe, pois nada mais pode lhe consolar.
Chore para que sua dor se esvaia pelas lágrimas.
Chore!
Simplesmente!
Por Brasilino Neto
Por Brasilino Neto
2 comentários:
Emocionante. Uma pena que esta seja nossa realidade.
Brasilino parabéns por ter assumido a presidência da Academia de Letras de Caçapava e por esse bonito texto.
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