Augusto Nunes
A Argentina é logo ali, mas a entrevista concedida por Lula ao jornal El
Clarín nesta quarta-feira sugere que o ex-presidente não reagiu bem à viagem sem
mudança de fuso horário. Convidado a comentar o julgamento do mensalão, o
palanque ambulante desta vez não se refugiou em golpes imaginários, nem enxergou
“um problema de caixa dois” na imensa roubalheira descoberta em meados de 2005.
Preferiu inventar outra história para safar-se do escândalo. E a discurseira
resultou em outro perfeito tiro no pé.
“Para um presidente que teve oito anos de mandato, o fato de terminar com 87%
de aprovação popular é um enorme julgamento”, viajou o entrevistado.
Ao confundir o Ibope, o Sensus e o Vox Populi com o Supremo Tribunal Federal,
o ex-presidente não só admitiu que o mensalão existiu como se instalou
voluntariamente no banco dos réus.
O desastre se consumou quando o declarante confundiu eleição com tribunal e
eleitor com jurado.
“Já fui julgado pelas urnas”, decidiu. “A vitória de Dilma Rousseff foi um
julgamento extraordinário”.
Faz de conta que sim. Nesse caso, Lula foi absolvido por 55 milhões de
eleitores que votaram em Dilma. Em contrapartida, foi condenado por 43 milhões
que rejeitaram a sucessora que escolheu. Não é pouca coisa.
Para essa imensidão de brasileiros ─ quem está dizendo é o próprio Lula ─, o
país foi governado durante oito anos pelo chefe supremo de uma organização
criminosa.
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