Estadão
A rotina na Câmara Municipal é a mesma toda terça, quarta e quinta-feira,
quando a capital ganha seu 56.º vereador. O parlamentar extra é o assessor José
Luiz dos Santos, o Zé Careca, apontado como “chefe” do esquema que frauda o
painel eletrônico. Sentado a cerca de 2 metros do presidente da Casa, José
Police Neto (PSD), ele acessa o sistema com senhas pessoais de vereadores,
garante o número necessário de presenças para abrir sessões e pode até votar.
Careca lidera uma equipe de pelo menos outros três fraudadores, que mantêm o
controle das marcações em listas feitas à mão. Fotos feitas pelo
Estado mostram que o grupo recebe a ordem para cometer a irregularidade
por telefone ou SMS.
Celulares ficam sobre a mesa e basta um toque para mais
um nome surgir no painel, sem que ninguém entre no plenário. Em outros casos,
servidores telefonam aos gabinetes em busca de autorização para marcar a
presença.
Funcionário da Câmara há mais de 30 anos, o assessor trabalha no plenário
desde 1994, quando entrou para a lista de homens de confiança dos parlamentares.
A qualquer momento, mesmo em fins de semana e feriados, Careca está disposto a
resolver “pepinos de vereadores”. Seu salário é de cerca de R$ 23 mil.
O servidor caiu nas graças de todas as últimas presidências do Legislativo.
Bases governistas de Paulo Maluf (PP) a Gilberto Kassab (PSD) contaram com a
habilidade do assessor no comando da Mesa Diretora. No segundo semestre de 2008,
por exemplo, foi Zé Careca quem coordenou a transição da lista de presença em
papel para a verificação em painel eletrônico.
De ternos bem alinhados e relógios de grife, o assessor tem fama de
workaholic – chega cedo e vai embora após 21h. É tão próximo dos vereadores que,
em alguns casos, o pedido de marcação de presença chega a ser feito a Careca em
voz alta pelo parlamentar, sem constrangimento.
No dia 27, durante sessão ordinária, o grupo de Careca marcou presença para
Wadih Mutran (PP), Juliana Cardoso (PT) e Juscelino Gadelha (PSB), entre outros
ausentes. O esquema é ofertado a todos, independentemente do partido.
No Palácio Anchieta, a tecnologia facilita a fraude. Além dos 55 terminais –
um de cada vereador –, há pelo menos mais 8 espalhados pela Mesa Diretora e um
na chamada sala secreta. Dessa lista, um fica escondido em uma gaveta, aberta
sempre que há marcação irregular.
Funcionários digitam a senha que identifica o vereador, apertam “entra” e
imediatamente o nome surge no painel eletrônico. Careca tem tanta prática que
nem precisa olhar a máquina. Tem senhas decoradas e marca nomes em segundos.
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