Estadão
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou "tapar o sol com a peneira",
caso tenha realmente pressionado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Gilmar Mendes a adiar o julgamento do mensalão, afirmou nessa quinta-feira, 30,
seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso.
"[O Lula] tem a tese de que o mensalão foi uma farsa, desde aquela declaração
que deu em Paris [em 2005], com a qual tentou minimizar o mensalão. Se ele fez
isso, e eu não posso afirmar porque não tenho dados, ele está insistindo na
mesma tese", declarou FHC em Pequim.
Ressaltando não saber o que ocorreu no encontro entre Lula e Mendes, o tucano
observou que "tentativas de tumultuar uma decisão dessas, de qualquer dos lados,
não ajudam".
Segundo ele, "o Brasil avançou muito e chegou o momento em que essas coisas
[o julgamento] têm que ser encaradas com naturalidade, com normalidade". O
ex-presidente foi responsável pela nomeação de Gilmar Mendes para o STF, em
2002.
Se Lula ainda fosse presidente, a eventual pressão sobre o STF seria ainda
mais "ilegítima", ressaltou. "Como cidadão, ele tem até mais liberdade. Ainda
assim, acho que temos que guardar a distância necessária para que as
instituições tenham sua respeitabilidade", afirmou.
"O que é importante é que haja um julgamento. É o que país todo espera, que
haja um julgamento e que o julgamento seja correto, que o que está lá nos autos
seja objeto de sanção", ressaltou o ex-presidente. "O país espera que o Tribunal
atue com independência e objetivamente nos diga, 'é verdade' ou 'não é
verdade'."
O tucano estava em Pequim para falar a empresários e investidores em encontro
promovido pelo banco Itaú. A instituição financeira não informou jornalistas
brasileiros baseados na capital chinesa sobre o evento. Representantes do banco
chegaram a afirmar que os correspondentes estavam "proibidos" de entrevistar o
ex-presidente, o que se mostrou inócuo quando o próprio se dispôs a falar.
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