O Globo
O brasileiro que precisa recorrer ao cheque especial para fechar as contas do
mês usa esse tipo de crédito — um dos mais caros do mundo — por 22 dias, em
média. Ou seja, o salário desses correntistas dura apenas oito dias na
conta.
Depois disso, começam a usar o limite. O custo da estripulia financeira é
estratosférico. No Brasil, os juros cobrados nessa modalidade são de 185% ao
ano.
Os dados mais recentes do Banco Central (BC) mostram que mesmo num momento de
crescimento dos empréstimos e de consolidação de linhas de financiamento mais
baratas — como o consignado —, o volume de crédito no cheque especial cresceu
15,6% somente nos três primeiros meses do no. Ao todo, são R$ 21,9 bilhões
negativos.
Se todo esse dinheiro fosse dividido pelo número de correntistas do país,
significaria que cada pessoa que tem conta em banco está R$ 190 no vermelho.
Nem o BC nem a Febraban têm um perfil do endividado no cheque especial, mas
as instituições financeiras fazem de perto esse controle não apenas para
calcular o risco que correm, mas também para prever os lucros.
Na Caixa Econômica Federal, os clientes que mais usam essa modalidade de
crédito são os solteiros. O banco identificou ainda que são pessoas entre 25 a
35 anos, sem filhos, e com ensino médio completo e renda mensal entre R$ 700 e
R$ 2 mil.
Já o Banco do Brasil constatou que os correntistas que recebem salário pela
instituição são os que mais ficam no vermelho.
O banco alega que só permanece nessa ciranda financeira quem desconhece o
programa de redução dos juros lançado recentemente que permite um
refinanciamento da dívida. Itaú, Bradesco e Santander se recusaram a informar
quais as características dos seus clientes que vivem pendurados no cheque
especial. Juntos, esses cinco bancos detém mais de 70% dos ativos do mercado
bancário brasileiro.
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