quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Torres e Silvinei brincam de Tom e Jerry à beira da ratoeira da PF



A Polícia Federal equipou-se para jogar Anderson Torres e Silvinei Vasques um contra o outro no inquérito sobre a operação montada para inibir a chegada de eleitores de Lula às urnas no Nordeste. Um dia depois de ser preso em Florianópolis e transferido para Brasília, Silvinei presta depoimento na tarde desta quinta-feira. Ex-ministro da Justiça e superior hierárquico do então chefe da Polícia Rodoviária Federal, Torres deve ser intimado a depor na próxima semana. Não será o primeiro depoimento de ambos.

Trechos de interrogatórios anteriores foram reproduzidos no relatório da Polícia Federal que fundamentou a ordem de prisão emitida contra Silvinei pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes. O documento é assinado pelo delegado federal Flávio Reis. Quem lê o texto percebe dois movimentos. Num, a PF constata que Anderson e Silvinei comportam-se como Tom e Jerry. Noutro, os investigadores armam uma ratoeira sem diferenciar os dois personagens. Trata-os como uma dupla de camundongos suspeitos.

No seu primeiro depoimento, Silvinei admitiu que "o número de abordagens" feitas pela Polícia Rodoviária Federal no segundo turno "foi maior". Mas atribuiu a anomalia não ao órgão que dirigia, mas a uma "operação do Ministério da Justiça". Torres declarou que a PRF agiu com "autonomia" e que "não tinha atribuição para vetar o planejamento". Disse ter ouvido de Silvinei que "a ação foi praticamente a mesma do primeiro turno", sem "qualquer direcionamento" político.

Para a PF Silvinei e Torres agiram de comum acordo. Guiaram-se por uma planilha que identificou as cidades onde Lula havia colecionado mais de 75% dos votos no primeiro turno. Coisa preparada sob a coordenação da então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar. A estratégia foi esmiuçada por Silvinei em reunião com 47 subordinados, em 19 de outubro. Em mensagem capturada pela PF, um dos participantes disse que Silvinei "disse muita merda" a portas fechadas. No mesmo dia, Silvinei e Marília reuniram-se com Torres.

Alexandre de Moraes e a PF desejam encostar o inquérito em Bolsonaro. Receberiam com boa vontade uma colaboração de Silvinei, desde que ele se dispusesse a delatar para cima. Mas essa hipótese é considerada no momento improvável.

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