quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Forças Armadas assam uma pizza nas brasas do golpismo



As revelações policiais dos últimos dias potencializaram o cenário que transforma, por contágio, a deterioração criminal de Bolsonaro num processo de desmoralização das Forças Armadas. Os militares reagiram à corrosão com três movimentos, todos insultuosos.

Num lance, o Ministério da Defesa pediu à Polícia Federal que informe os nomes dos militares que se reuniram com o hacker e estelionatário Walter Delgatti para tramar contra urnas eletrônicas. O pedido é ofensivo porque caberia à pasta da Defesa fornecer à PF dados sobre perversões ocorridas nas suas dependências, não o contrário.

Noutro lance, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica sustentaram, numa conversa com Lula, no escurinho do Alvorada, que é preciso esperar pelas sentenças judiciais para reagir. Alegaram que convém evitar uma "caça às bruxas".

A protelação ofende porque o repúdio da corporação à delinquência independe do Judiciário. Com a complacência do alto-comando, Bolsonaro politizou os quarteis. Para desbolsonarizar suas atividades, os comandantes terão que reagir no tempo da política. No Brasil, a Justiça tarda e, por vezes, não chega.

Num terceiro movimento, os militares incorporam à sua prática a metodologia do centrão. Articulam privilégios novos. Obtiveram de Lula o aval à destinação de R$ 53 bilhões do Novo PAC para investimentos nas Forças Armadas. É mais do que será investido em Educação (R$ 45 bilhões). Ou em Saúde (R$ 30,5 bilhões).

Em comunicado endereçado ao público interno, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, anotou que os soldados "devem pautar suas ações pela legalidade e legitimidade". No mesmo texto, a pretexto de "fortalecer as ações voltadas para o bem-estar da família militar", disse ter acionado o Estado Maior do Exército para articular medidas "visando à recomposição salarial dos militares".

A elevação dos investimentos e o manuseio do fator sindical afrontam porque passam a impressão de que as Forças Armadas utilizam a brasa do bolsonarista para assar uma pizza. Nada a ver com orégano e mussarela. Uma pizza integralmente feita de omissão e privilégios.

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