quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Alexandre de Moraes cerca Bolsonaro no caso da PRF


Silvinei Marques, diretor da PRF, postou foto com o presidente Jair Bolsonaro durante a corrida eleitoral. MPF vê irregularidade e pede afastamentoImagem: Reprodução

Entre todos os fios desencapados que enroscam Bolsonaro, a operação montada no segundo turno para bloquear a chegada de eleitores de Lula às urnas no Nordeste passou a ser um dos mais temidos pela defesa e por aliados do capitão. A prisão do ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, nesta quarta-feira, trouxe à tona detalhes de uma investigação que aproxima Bolsonaro de um curto-circuito.

A ordem de prisão, expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, evoca depoimentos e mensagens eletrônicas colecionadas pela Polícia Federal. Analisados em conjunto, os elementos produzem a sensação de que o caso mudou de patamar. O circo pega fogo. No epicentro do incêndio há uma reunião de Silvinei com 47 subordinados —a fina flor da Polícia Rodoviária.

No papel, a reunião destinava-se a discutir temas triviais como a educação física dos agentes. A retenção dos celulares na entrada prenunciava coisa mais séria. Fora da ata, o tema foi a eleição presidencial.

Chefe do setor de inteligência da PRF na época, Adiel Alcântara revelou em mensagem trocada com um colega a montagem de uma operação "politicamente direcionada" para dificultar o trânsito de eleitores de Lula. Adiel anotou que Silvinei "disse muita merda" a portas fechadas.

Os investigadores da Polícia Federal extraíram do celular de Marília Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, planilha encomendada pelo então chefe da pasta, o ex-ministro Anderson Torres. Foram mapeados os municípios onde Lula obteve mais de 75% dos votos no primeiro turno.

Repassados a Silvinei, os dados serviram de bússola para a ação "politicamente direcionada" da PRF no dia da votação em segundo turno. Silvinei e Marília reuniram-se com Anderson no dia 19 de outubro, nas pegadas daquele encontro em que o chefe da PRF "disse muita merda" sobre eleições aos seus subordinados.

Os três serão reinquiridos pela Polícia Federal. Silvinei, nesta quinta-feira. Marília, até sexta. Anderson deve receber intimação na semana que vem.

Os operadores do capitão descobrem aos poucos que um dos problemas com as coisas varridas para baixo do tapete é que o país continua vivendo em cima do tapete. Testemunhas e arquivos nem sempre ficam quietos. Silvinei e Anderson mentiram na CPI do Golpe como se imaginassem que falavam para uma nação de bobos. Um está na cadeia. Outro amarga prisão domiciliar.

O melado escorre para cima. Alexandre de Moraes cerca Bolsonaro.

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