quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Defesas de Bolsonaro e Cid são feitas de meias palavras e vazios



Bolsonaro e Mauro Cid deixaram tantos rastros que acabaram condenando seus defensores às meias palavras. Ou a palavra nenhuma. Os advogados são seletivos. São compelidos a desprezar certos fatos como se fossem fatos incertos.

Paulo Bueno, o advogado de Bolsonaro, não se interessa pela fartura de detalhes colecionados pela Polícia Federal sobre a venda clandestina de joias. Ele sustenta que seu cliente era dono dos presentes que recebeu como chefe de Estado. Devolveu as peças por excesso de zelo. O doutor trata todo o resto como insignificante.

Cezar Bitencourt, o terceiro advogado do tenente-coronel Cid, entrou em cena estalando de ousadia. Anunciou que seu cliente confessaria a venda das joias a mando de Bolsonaro. De repente, suas manifestações tornaram-se aguadas. Confissão virou admissão. Joias reduziram-se a um Rolex. Ordem taxativa virou um vago "resolve isso lá". E o doutor concentrou-se no relógio, como se nada mais tivesse sido descoberto sobre seu cliente.

A fragilidade de Bolsonaro e Cid obriga os advogados à estranha tarefa de medir as palavras. O defensor do capitão diz pouco. O do coronel sugere muito sem dizer coisa com coisa. Paulo Bueno sustenta que lei de 1991 dá a Bolsonaro direito de vender as joias. Absteve-se de dar preferência à União. Mas isso é mero equívoco administrativo, não peculato. Alega que acórdão do TCU não se sobrepõe à lei.

As joias voaram para os Estados Unidos no avião presidencial. Vendidas na surdina, foram recompradas clandestinamente e devolvidas às pressas. Bolsonaro nega até o óbvio. Se era legal, por que tantas ilegalidades e mentiras? A defesa abstém de dizer. A principal arma dos advogados passou a ser a régua. Medem cada palavra. Correm o risco de aumentar o tamanho das sentenças.

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