terça-feira, 15 de agosto de 2023

A ideologia xenófoba de Romeu Zema





Em um período recente, o Brasil experimentou um sentimento coletivo até então inédito: a disseminação da política do ódio. Concentrado principalmente em classes sociais mais ricas, cresceu o preconceito contra homossexuais, mulheres, indígenas e quilombolas. Como sua causa e consequência, Jair Bolsonaro soube capitanear a onda neofascista e através dela ser eleito presidente da República. Com sua inelegibilidade definida no Tribunal Superior Eleitoral, políticos identificados com o espectro da direita disputam o lugar de alternativa para os órfãos eleitores bolsonaristas.

O governador mineiro Romeu Zema resolveu entrar nessa disputa da pior maneira, introduzindo uma nova faceta na política do ódio: a xenofobia. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, desfilou preconceitos contra brasileiros que não vivem no Sul/Sudeste, como se fossem “vaquinhas que produzem pouco”. Para impor a supremacia sulista, contou que estimulou a criação do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), para se contrapor ao “protagonismo político” conquistado pelo Nordeste.

Felizmente, as declarações geraram uma reação quase unânime entre os políticos e outros segmentos da sociedade. O separatismo e divisão foram tratados como devem ser, com a mais profunda repugnância.

Além de xenófobo, atrasado, preconceituoso, o posicionamento de Zema demonstra um equívoco como tática eleitoral. Só poderia vir do mais ignorante entre todos os governadores mineiros. Ao discriminar os povos de outras regiões, ele revela não só desconhecer a história da constituição do Brasil, mas do próprio estado que governa. Há muitos anos o norte-mineiro Darcy Ribeiro já nos ensinou que Minas Gerais é o estado síntese do Brasil e o sertanejo Guimarães Rosa disse que “as Minas são muitas”.

Geograficamente rodeado de outros estados, Minas incorpora elementos de todas as regiões, como se fosse um pequeno Brasil. Belo Horizonte e a região metropolitana concentram 30% da população mineira. Se juntar as regiões do Norte, Rio Doce, Mucuri, Nordeste e Jequitinhonha, que pela proximidade sofrem forte influência nordestina, a soma é de 25%. Próximos a São Paulo, o Sul e Sudoeste têm 13%. A “carioca” Zona da Mata tem 10%, percentual que é o mesmo do Oeste e Centro de Minas, juntos. Já o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, colados em São Paulo e no Centro-Oeste brasileiro, 12%.

Essa diversidade geográfica mineira influencia diretamente no comportamento da população. Do time de futebol ao voto para presidente. As regiões que fazem fronteira com a Bahia votaram majoritariamente em Lula, com índices que lembram o Nordeste. Já os moradores da Zona da Mata torcem mais para os clubes cariocas que para os mineiros Atlético, Cruzeiro e América.

O presidente mineiro Juscelino Kubitschek veio com a missão de unir o país. Saiu da sua Diamantina, no Jequitinhonha, para construir uma nova capital federal no planalto central. Materializou assim o sonho de aproximar o Brasil das regiões Norte e Centro-Oeste, até então isoladas. A integração nacional que promoveu ajudou a fortalecer o sentimento de povo único, fruto da “etnia nacional” descrita por Darcy. Que tem como suas maiores qualidades sua miscigenação, pluralidade e diversidade.

A vaidade e prepotência de Romeu Zema o fazem abandonar a obrigação de governar o estado e entrar em campanha para a Presidência da República. Na sua tática de se tornar conhecido nacionalmente, se aventura em entrevistas para veículos de outros estados. Não podemos negar que alcançou seu objetivo, hoje o Brasil conhece um pouco mais do governador xenófobo e limitado que envergonha a história de liberdade, democracia e brasilidade que sempre foi a marca de Minas Gerais.

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