segunda-feira, 10 de julho de 2023

Kits de robótica mostram que o crime compensa



O caso dos kits de robótica convive com um paradoxo muito comum nos crimes do poder no Brasil. A perspectiva de punição dos delinquentes diminui na proporção direta do aumento dos indícios de culpa colecionados pela Polícia Federal. Deve-se o fenômeno a um detalhe constrangedor: personagem central do escândalo, o imperador da Câmara Arthur Lira frequenta simultaneamente as páginas do inquérito, a presidência da Câmara e os palácios de Brasília.

Contra esse pano de fundo, circula pela Praça dos Três Poderes a constrangedora percepção de que o avanço de investigações envolvendo Athur Lira seria inconveniente, pois tumultuaria a governabilidade num instante em que o Congresso entrega reformas importantes para o país. Para que a PF não exagere na inconveniência, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes trancou na semana passada as investigações contra Lira e todos os outros encrencados.

A Folha revela agora que um ex-servidor do MEC, pilhado com movimentações bancárias suspeitas de R$ 737 mil, esteve 14 vezes com o dono da empresa que forneceu os kits de robótica superfaturados a escolas alagoanas sub-estruturadas. Amigo de Arthur Lira, o empresário foi ao Ministério da Educação acompanhado de um ex-assessor do deputado. Com esse ex-auxiliar de Lira, a PF encontrou documento que vincula repasses suspeitos de R$ 650 mil ao nome "Arthur".

Para que tudo resulte em nada, a defesa de Lira pede ao Supremo que envie o inquérito para o arquivo morto. Faz isso esgrimindo questões processuais, sem discutir o mérito dos achados da PF. Costuma-se dizer que o crime não compensa. Não é verdade. A questão é que, quando compensa, ele muda de nome. No momento, chama-se kit de robótica. Ou Codevasf... Ou...

Nenhum comentário: