quinta-feira, 6 de julho de 2023

Aliados de Bolsonaro avaliam que derrota no TSE é só a ‘ponta do iceberg’


Bolsonaro em reunião do PL: ex-presidente foi condenado por abuso de poder político e ficou inelegível por oito anos

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro é só a “ponta do iceberg” de uma série de reveses que ainda virão nas diversas instâncias judiciais, avaliam aliados do ex-presidente ouvidos reservadamente pela equipe da coluna.


No Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, o PL já dá como certa a aplicação de uma multa para ressarcir os cofres públicos dos gastos da reunião com embaixadores, marcada por ataques infundados contra as urnas eletrônicas. Pelo mesmo episódio, o TSE já afastou o ex-presidente do processo eleitoral pelos próximos oito anos.

As projeções de aliados incluem o indiciamento do próprio Bolsonaro no caso das milionárias joias sauditas e novos desdobramentos do inquérito das milícias digitais, das fake news e dos atos golpistas de 8 janeiro, além do aprofundamento da apuração sobre fraude na carteira de vacinação, com novas quebras de sigilo e operações de busca e apreensão que possam constranger o ex-ocupante do Palácio do Planalto e sua família.

Há também o receio com a saída de Augusto Aras do comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), e sua substituição por um subprocurador que não sirva mais de blindagem ao clã Bolsonaro. O mandato de Aras se encerra em setembro, mas sua sucessão já vem movimentando os bastidores.

Um dos temores de aliados de Bolsonaro é que um novo chefe da PGR, indicado por Lula, apresente denúncias contra o ex-presidente no âmbito das investigações que seguem no STF sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, podendo resultar até em sua condenação na esfera criminal.


Uma delas, movida pela coligação de Lula, é monitorada com particular apreensão pelos bolsonaristas: a que acusa o ex-presidente, seus três filhos parlamentares – o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) – e dezenas de outros apoiadores de promoverem um “ecossistema de desinformação” nas redes sociais para difundir fake news e “manipular a opinião pública”.

Ao acionar o TSE, em outubro do ano passado, o PT já pediu o compartilhamento das provas colhidas pelo STF no âmbito do inquérito das milícias digitais.

O partido de Lula rechaça uma série de tuítes publicados por bolsonaristas, entre eles os que levantaram falsas acusações de fraude contra as urnas e associaram a legenda a uma organização criminosa e à morte do ex-prefeito Celso Daniel.

A campanha lulista pediu a punição não apenas de Bolsonaro e seu candidato a vice, o general Braga Netto, mas também de quem mais tenha “contribuído para os atos abusivos”. A ação ainda está em estágio inicial, mas deve ganhar celeridade antes de o ministro Benedito Gonçalves deixar a Corregedoria do TSE em novembro.

“Já detectei esse mesmo temor em vários segmentos da direita e mesmo da centro-direita: a percepção de que estaria em curso um projeto de decapitação em série das lideranças liberais e conservadoras”, disse à equipe da coluna o cientista político Paulo Kramer, que ajudou na formulação do plano de governo bolsonarista de 2018.

"Apesar de suas deficiências, Bolsonaro é o maior líder conservador da História do Brasil em todos os tempos. É provável que muita gente o siga mais como a um ‘ídolo’ do que como a um verdadeiro líder. Mas a liderança política estável exige uma base organizacional e partidária de que o bolsonarismo ainda carece."

Há, contudo, uma divergência entre aliados sobre o exato tamanho do iceberg e qual seria exatamente o seu fundo – mais precisamente, quais os riscos de uma prisão do ex-presidente da República.

Integrantes do PL e da equipe jurídica de Bolsonaro minimizam as chances de uma medida tão drástica, alertando para o potencial de uma decisão nesse sentido provocar tumulto nas ruas, gerar instabilidade e incendiar o país.

Mas um interlocutor frequente do ex-presidente, mais pessimista, já o prevê na cadeia até o fim do ano. “Bolsonaro vai perder tudo e está morto até 2030”, desabafa.

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