segunda-feira, 10 de julho de 2023

Codevasf desafia pregação de Lula contra criminalização da política



O escândalo da Codevasf, parte da herança maldita da gestão Bolsonaro, desliza suavemente para dentro do enredo do governo Lula. Na penúltima manchete sobre o escracho, a Folha anota: "Governo Lula beneficia parentes de políticos com doação de máquinas". A notícia empilha exemplos de repasses de verbas do antigo orçamento secreto da estatal Codevasf para a aquisição de carros e maquinário por associações provadas ligadas a parentes de políticos.

Muitos se perguntam por que o dinheiro do contribuinte continua saindo pelo ladrão na Codevasf. A resposta é simples como o ABC. A, os ladrões foram mantidos dentro do orçamento da Codevasf. B, o orçamento secreto mudou de nome, mas não acabou. C, o governo é outro, mas o comando da estatal é o mesmo.

Sob Bolsonaro, dava as cartas na Codevasf um protegido do deputado Elmar Nascimento, o líder do União Brasil. Ele opera em consonância com o imperador da Câmara Arthur Lira. Sob Lula, nada mudou. Pior: Elmar e Lira reivindicam novos cofres. Muito pior: Lula cogita entregar.

Estrelas do centrão, Lira e Elmar percorrem os salões de Brasília como centauros da política. Mantêm a cabeça e o tronco lá em cima, nas reformas liberais e nas mais altas justificativas do mercado, e o corpo lá embaixo, no clientelismo e na politicagem explícita. O resultado dessa combinação desafia o discurso de Lula segundo o qual a criminalização da política é um desserviço ao país.

Se a reiteração dos desvios na Codevasf serve para alguma coisa é para demonstrar que a política continuará sendo criminalizada sempre que um político ou seus prepostos forem flagrados cometendo crimes. Enquanto a governabilidade for um outro nome para criminalidade, a tese da descriminalização da política será apenas mais uma fachada para a perpetuação da delinquência patrimonialista que infesta o Estado.

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