terça-feira, 11 de julho de 2023

Fascistoides tentam usar em proveito próprio justa reação de progressistas


Hugo Chávez faz mira, em 2006, com um dos fuzis Kalashnikov que comprou da Rússia para armar os venezuelanos; em 2019, em Israel, Bolsonaro manipula em fuzil e defende que a população se arme Imagem: Reuters; Reprodução/Instagram

A semana que passou foi a melhor do governo Lula — este mesmo que tem enfileirado vitórias, inclusive no Congresso Nacional. Pergunto: o que a extrema-direita tem a dizer ou a oferecer como alternativa a não ser a guerra de valores, movimentando as redes sociais, criando barulho? É preciso que os progressistas tomem cuidado com provocadores baratos como os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo.

Depois de o PL ter vivido um conflito interno por causa da reforma tributária; de o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, ter virado alvo da canalhada nas redes sociais porque defendeu a reforma, sendo ironizado, inclusive, pelos filhos de Jair Bolsonaro, era urgente oferecer sangue aos canibais. Até porque, insista-se, que orientação tinha o ex-presidente a seus comandados?

Eis que aparece Eduardo, no domingo, sobre um carro de som, em Brasília, a defender o armamento da população. Não bastava. Evocou supostos "professores doutrinadores", dizendo que são piores do que narcotraficantes — estes, note-se, não têm o que reclamar do governo do seu pai. Por intermédio de CACs que eram bandidos, armaram-se a valer.

A fala estúpida gerou justa indignação e reações e é certo que tem uma perspectiva criminosa. A deputada Professora Luciene Cavalcante (PSOL-SP) recorreu ao STF com uma notícia-crime por incitação ao crime, ameaça e constrangimento ilegal. O relator sorteado é Nunes Marques. Vocês querem que eu adivinhe o que vai acontecer ou não precisa?

O também deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) apelou Conselho de Ética da Câmara, apontando apologia de atos criminosos. Flávio Dino pediu à Polícia Federal que investigue o caso. Ministro da Justiça pode pedir de ofício abertura de inquérito. Será que não é isso mesmo o que queria Eduardo? É preciso pensar quando a reação, ainda que justa, vira uma casca de banana.

Tão logo Dino anunciou a decisão, o deputado foi para as redes e afirmou:
"Lamentável ver a Polícia Federal, instituição da qual orgulhosamente faço parte, ser utilizada politicamente para satisfazer desejos autocratas de comunistas, enquanto verdadeiros criminosos parecem não incomodar tanto".

Eduardo está à procura de uma causa. Ele não tem nenhuma. Quer usar a reação dos adversários para agitar as milícias digitais, que andam um tanto desanimadas. E conta, nem poderia ser diferente, com a mentira.

No carro de som, afirmou, por exemplo, ao se referir à Venezuela:
"A gente conhece a história: 2012 para 2013m fizeram desarmamento lá. Em 2016, Caracas se tornou a capital com o maior número de homicídios proporcionalmente. Às vezes, as pessoas se enganam, achando que é a Síria, é o Afeganistão ou Iraque. Não! A Venezuela é o país mais violento do mundo. E o Brasil vai voltar a caminhar nesse sentido. Infelizmente, vai rolar muita vida de inocente porque os caras aqui do Ministério da Justiça não querem dar o acesso à legítima defesa a todos nós."

De fato, Caracas é uma das cidades mais violentas do mundo, mas prestem atenção: em 2006, em certo Hugo Chávez anunciou:
"A Venezuela precisa ter um milhão de homens e mulheres bem equipados e bem armados. Peço permissão para comprar outro carregamento de armas porque os gringos querem nos desarmar. Temos de defender nossa pátria".

Importou 100 mil fuzis da Rússia e fez um acordo bilionário de compra de armamentos com a Espanha. Em 2014, Nicolás Maduro lançou um programa de desarmamento. Não deu em nada. As armas distribuídas às milícias chavistas caíram nas mãos do crime organizado — e muitos dos milicianos se tornaram, eles próprios, criminosos comuns.

Sabem quem fez um discurso idêntico ao de Chávez aqui no Brasil? Um tal Jair. Na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, afirmou:
"Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia de que não vai ter um filho da puta pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Por que eu estou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura. E não dá pra segurar mais. Não é? Não dá pra segurar mais."

As duas fotos no alto deste texto, diga-se, são por demais eloquentes. Também no Brasil, por intermédio dos CACs delinquentes, armas de grosso calibre, que passaram a circular em razão dos decretos de biltre, caíram nas mãos do narcotráfico e das milícias.

Que os progressistas façam, sim, os devidos esclarecimentos. Mas é preciso pensar se cabe reagir a cada diatribe e a cada imbecilidade que os fascistoides lançam na praça. Fiquem atentos: outras virão. Fiquem certos: as coisas asquerosas ditas por Eduardo chegaram a mais gente depois das reações. Como estão por baixo, só lhe resta tentar usar a força do adversário a seu favor. E não se deve lhes dar essa facilidade.

Às vezes, basta tocar violão.

Nenhum comentário: