quarta-feira, 5 de julho de 2023

Centrão breca modelo em que Saúde exigia um 'da cá' antes de cada 'toma lá'



Guiando-se por critérios técnicos e jurídicos, a ministra da Saúde Nísia Trindade ousou alterar a ordem dos fatores no balcão do fisiologismo. Passou a exigir dos parlamentares um "dá cá" antes e cada "toma lá". A equipe de Nísia escorou-se em decisão do Supremo Tribunal Federal que, ao decretar a inconstitucionalidade das emendas secretas criadas sob Bolsonaro, decidiu que as verbas deveriam ser realocadas nos programas definidos como prioritários pelos ministérios.

Herdeira de R$ 3 bilhões do antigo orçamento secreto, a Saúde tentou forçar deputados e senadores a ajustar seus pedidos às necessidades do ministério. Fixou prazo para que estados e municípios apresentassem suas propostas. Deu confusão. Sob a liderança de Arthur Lira, o réu que preside a Câmara, o centrão pediu o escalpo de Nísia Trindade. Lula manteve a cabeça da ministra sobre o pescoço. Mas o juízo do Ministério da Saúde foi subvertido.

Antes mesmo do vencimento do prazo para a apresentação das propostas de estados e municípios, no último dia 30 de junho, a pasta de Nísia abriu os cofres. Notícia da Folha informa que foram liberados R$ 465 milhões da Saúde para redutos de congressistas do centrão. Alagoas, o estado de Arthur Lira, beliscou o maior bocado: R$ 107 milhões. Estima-se que até o final desta semana as liberações chegarão à marca de R$ 600 milhões.

O toma-lá-dá-cá, como se sabe, tornou-se parte indissociável da política nacional. Pode-se admitir que os parlamentares tenham representatividade para defender os interesses de seus redutos eleitorais. Mas o caso da Saúde mostra que o problema é bem outro. Se os procedimentos que Nísia e sua equipe tentaram implementar fosse disseminado pela Esplanada, o escambo ganharia alguma legitimidade, pois deputados e senadores esclareceriam à luz do dia o que desejam tomar e o governo explicaria o que se dispõe a dar. Fora disso, prevalece a bagunça e viceja a roubalheira.

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