sexta-feira, 7 de julho de 2023

382 a 118: biltre homiziado de Orlando vira o biltre solitário de Brasília


Jair Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e Tarcísio de Freitas em reunião da bancada do PL para debater a reforma tributária Imagem: Reprodução/PL

O ex-presidente Jair Bolsonaro é, obviamente, o grande derrotado com a aprovação da reforma tributária. E por placar tão largo. Desastrado, resolveu atropelar Tarcísio de Freitas (Republicanos) numa reunião da bancada do PL, a que o governador resolveu comparecer para, digamos, tentar pacificar a direita. Tudo em vão. Mas ele se esforçou:

"Nós não podemos perder a narrativa; a direita não pode perder a narrativa de ser favorável a uma reforma tributária porque, se não, a reforma tributária acaba sendo aprovada, e quem aprovou?"

Os radicais do PL o interrompem com protestos. Ele tenta retomar:
"Gente, a grande questão é construir um bom texto..."

Foi interrompido pelo próprio Bolsonaro:
"Se o PL estiver unido, não aprova nada"

Aplausos e "uhus", com "é isso aí presidente".

Em tempo: o PL deu 20 votos pela aprovação. Mesmo sem eles, a PEC teria sido aprovada com larga vantagem.

Tarcísio retomou:
"O que eu estou querendo explicar e estou vindo aqui explicar, com a maior humildade do mundo, é que eu acho arriscado, para a direita, abrir mão da reforma tributária"...

E vem da plateia um alarido de protesto... Ele se zangou, mas só um pouquinho:
"Tudo bem, gente, se vocês acham que reforma tributária não é importante, não vota, pô!"

Os parlamentares do PL estavam, vamos dizer, pilhados por tuítes de Bolsonaro, que havia escrito a seguinte maravilha. Segue conforme está lá:
"Não à Reforma Tributária do PT: Lula se reúne com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel, FARC, ...), diz ter orgulho de ser comunista, que na Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende padres e expulsa freiras e seu partido comemorou a minha inelegibilidade. Afinal quem acredita num governo que escolheu seu ministério com perfil completamente diferente do nosso, gastador e sem compromisso com o futuro do seu povo? Do exposto, a todos aqueles que se elegeram com nossa bandeira de 'Deus, Pátria, Família e Liberdade', peço que votem contra a PEC da Reforma Tributária do lula".

Convenham: o que esse vomitório de caráter puramente ideológico tem a ver com o texto? Tratava-se, afinal, de uma reforma tributária de esquerda? É claro que não. Bolsonaro e seus extremistas queriam apenas secretar seu rancor contra Lula.

Leiam, por exemplo, o que disse a Bolsonaro o deputado Ricardo Salles (SP), ex-ministro do Meio Ambiente, tratando com certo desdém o trabalho feito por Tarcísio quando ministro:
"Um dos que mais apanhou no seu governo fui eu porque justamente estava num dos ministérios cujo objetivo é enfrentar a esquerda. É muito mais fácil, sem nenhum demérito ao trabalho que foi feito, é muito mais fácil fazer estrada, ponte, ferrovia, do que combater a esquerda. Os ministérios ideológicos -- Meio Ambiente, Justiça, Educação, Cultura --, é ali que a briga ideológica acontece."

Eis aí o puro sumo do bolsonarismo. Há duas investigações criminais em curso sobre a atuação de Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente. Parece-me que o que vai acima deixa claro que, no comando da pasta, seu objetivo não era mesmo defender as florestas... Entendia que sua tarefa era "enfrentar a esquerda". Afinal, diz, era um dos "ministérios ideológicos". Que suas palavras sejam apensadas às investigações. Trata-se de uma espécie de confissão involuntária — quando menos, numa ação por improbidade administrativa.

Bem, as milícias bolsonarianas passaram a atacar ferozmente o governador nas redes. Como o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) havia dito na noite anterior que Tarcísio era favorável a 95% da reforma, restando apenas algumas ressalvas, gente do entorno de Bolsonaro mandou ver.

Eduardo, o filho deputado (PL-SP), escreveu:
"Não sou 95%, sou 100% contra a reforma tributária do PT".

O próprio Salles ironizou:
"95% convencido de que há algo de muito errado no reino da Dinamarca".

Fabio Wajngarten, assessor de imprensa do ex-presidente, disparou:
"Eu amo 95% São Paulo. Eu sou 95% contra a agenda verde. Não à Reforma Tributária. Não à Reforma do Lula. Não à Reforma do PT".

MUDANÇA DO TEXTO
E não que as negociações de Tarcísio tenham sido infrutíferas. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o relator, atendeu a um pleito seu e de outros govenadores do Sudeste e Sul. O Conselho Federativo, que cuidará da arrecadação e da distribuição do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que vai reunir ICMS e ISS, terá formação paritária entre os Estados. Mas as decisões só poderão ser tomadas se a maioria formada corresponder a pelo menos 60% da população.

Bolsonaro sofreu uma derrota espetacular. Embora Tarcísio tenha tentando vender, vamos dizer, um raciocínio estratégico ao falar como um representante da direita, a súcia não estava disposta a ouvi-lo. É evidente que inexiste "bolsonarismo moderado". A prova está no raciocínio estúpido que o "capitão" deixou vazar no Twitter.

A votação serviu para evidenciar o tamanho de sua real liderança na Câmara... E não pensem que os 118 que rejeitaram o texto na primeira votação (113 na segunda) são bolsonaristas. Muitos outros interesses concorreram para o "não".

O dia terminou, e os extremistas de direita têm um inimigo novo: Tarcísio de Freitas. Resta-me dar os parabéns a Bolsonaro. Ele continua a ser um dos seus mais poderosos e merecidos inimigos.

O biltre homiziado de Orlando virou o biltre solitário de Brasília.

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