Em época de campanha, pouca gente lê programas de governo. Quem lê não acredita. Se acredita, corre o risco de passar por idiota. Ainda assim, a cenografia das disputas presidenciais inclui a exposição de ideias que permitam ao eleitor fazer um juízo mínimo de valor sobre as intenções dos candidatos. Mas Jair Bolsonaro frequenta o topo das pesquisas sem que se saiba com clareza o que ele fará, por exemplo, com a economia do país.
Paulo Guedes, o ministro da Fazenda de um eventual governo Bolsonaro, tomou chá de sumiço. Desde que suas declarações sobre tributos viraram combustível para polêmicas, ele já fugiu de um debate televisivo com economistas de outras candidaturas, cancelou encontro com investidores e desmarcou sabatina num jornal. Numa hora em que o eleitor precisa de transparência, o guru econômico do capitão brinca de esconde-esconde.
Quando um candidato se torna competitivo, é até compreensível que, em meio ao tudo-ou-nada de uma disputa eleitoral, seu programa fique mais aguado. O que incomoda no caso de Bolsonaro é que, no calor da polarização, a sopa servida pelo candidato evolui do estado líquido para o gasoso. O eleitor é convidado a votar num sentimento anti-PT. Ironicamente, a petista Dilma se elegeu em 2014 dizendo coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Deu no que está dando.
Por Josias de Souza
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