sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A bolha Amoêdo


ONDA LARANJA” - Amoêdo: o impulsionamento de postagens atinge
eleitores de alta renda e escolaridade de centros urbanos, segmentos de
Alckmin e Bolsonaro

Quando, em 16 de agosto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou os candidatos a pagar ao Facebook para que suas postagens alcançassem mais usuários da rede (o chamado “impulsionamento”, no jargão virtual), o empresário João Amoêdo, presidenciável do Novo, tinha o tímido desempenho de 1% nas pesquisas de intenção de voto. Assim que a Justiça permitiu turbinar a internet, ele escalou seus doze especialistas em redes sociais para uma missão quase impossível: fazer seu nome saltar da lista dos nanicos para a dos candidatos que vão a debates e têm o nome nas pesquisas — em outras palavras, colocá-lo dentro do jogo. Para isso, Amoêdo disponibilizou 120 000 reais mensais apenas para o impulsionamento de posts no Facebook. Vinte dias após o início da estratégia, veio o resultado: ele subiu 2 pontos na pesquisa Ibope divulgada na quarta 5 — agora aparece com 3% de intenções de voto, o equivalente a 4,4 milhões de eleitores. Segundo o Google, as buscas por seu nome subiram mais de 1 000% nesse período.

A estratégia de redes sociais foi auxiliada por uma informação que atraiu para o empresário a atenção espontânea de parte do eleitorado. Amoêdo, que fez carreira no mercado financeiro, declarou ao TSE um patrimônio superior a 400 milhões de reais, o que o transformou no presidenciável mais rico do pleito de 2018 — e também em meme instantâneo nas redes. “Com 425 milhões, Amoêdo deve desistir da disputa e fundar seu próprio país”, ironizou o site Sensacionalista, que publica coluna semanal em VEJA.

Tudo isso ajudou a criar uma “bolha” de interesse em torno de seu nome. As postagens impulsionadas foram calculadas para atingir um público à imagem e semelhança dos apoiadores do Partido Novo: eleitores com alta escolaridade, renda acima de dez salários mínimos e que moram nos centros urbanos. É nesse nicho — na qual investem também o tucano Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro (PSL) — que Amoêdo almeja crescer. Uma postagem impulsionada em que o candidato diz que não morará no Palácio da Alvorada caso se eleja foi visualizada por mais de 1 milhão de pessoas — na maioria homens e mulheres de 25 a 34 anos e que moram no Estado de São Paulo. “Sendo sincero, eu ia votar no Bolsonaro. Mudei de ideia, vou votar em você. Vamos ver o que virá”, escreveu um jovem na caixa de comentários da postagem, num resumo do espírito desses eleitores.

A bolha nascida no mundo virtual já produziu outros resultados bem concretos. De agosto até a primeira semana de setembro, o candidato do Novo recebeu pouco mais de 1 milhão de reais em doações de pessoas físicas, o que o deixa em pé de igualdade com os nomes mais bem posicionados nas pesquisas. Deram dinheiro à sua campanha, entre outros, os empresários Walter Schalka, presidente da Suzano, Fernão Bracher, vice-presidente do conselho de administração do Itaú BBA, José de Menezes Berenguer Neto, presidente do JP Morgan no Brasil, e Anis Chacur e José Eduardo Cintra Laloni, do banco ABC Brasil. Para o cientista político Maurício Moura, da Ideia Big Data, a simpatia de alguns segmentos em relação a Amoêdo cresce na mesma medida em que aumenta o ceticismo desses grupos acerca das chances de Geraldo Alckmin chegar ao segundo turno. Para Amoêdo, isso é uma vantagem apenas relativa. “O voto em Amoêdo não aparenta ser um voto consolidado. Se Alckmin se mostrar viável nas pesquisas, esse eleitor poderá voltar para ele como voto útil”, afirma Moura. Amoêdo, como Jair Bolsonaro, é contra a descriminalização do aborto e das drogas, a favor da privatização de estatais, da liberação do porte de arma, e contra a ideia de o Estado interferir na disparidade salarial entre homens e mulheres. Recentemente, a campanha de Bolsonaro passou a compartilhar nas redes postagens em que se afirma que Amoêdo é “armação de esquerda”.

Amoêdo tem potencial para atrair votos de Alckmin e Bolsonaro, mas, como candidato, é improvável que chegue a ameaçar alguém. Seu poder é indireto: diante de uma disputa tão fragmentada, seu leve crescimento nas pesquisas pode ajudar a definir os contornos do segundo turno.

Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599

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