Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, passou a fazer a coisa tecnicamente correta — e não vai, não neste texto, juízo de valor sobre este ou aquele — na disputa eleitoral que, até agora, tem se mostrado bastante difícil para ele. Seu alvo instrumental passou a ser o deputado Jair Bolsonaro (PSL), embora o alvo final seja mesmo o PT. Explico.
Segundo o Datafolha, Bolsonaro é hoje o principal receptáculo do antipetismo. Parte considerável do eleitorado o escolhe porque o vê como o mais duro combatente contra o petismo. A tarefa do tucano é complexa: consiste em dizer que Fernando Haddad já está no segundo turno e que deputado do PSL pode ser o passaporte para a volta dos companheiros em razão das rejeições que desperta.
Só essa pregação, no entanto, tem-se mostra ineficiente. Ou inútil mesmo. Sem a tentativa de desconstrução da imagem plasmada por seu adversário à direita, nada feito. Nos primeiros dias de campanha, essa já era a escolha, diga-se. Ocorre que Bolsonaro foi vítima da facada justamente no sétimo dia do horário eleitoral, 6 de setembro. Apenas três deles tinham sido dedicados aos presidenciáveis: 1º, 3 e 5. E aí foi preciso suspender, por razões que dispensam explicação, a artilharia. Afinal, não se sabia qual poderia ser a reação da população diante do ataque político a uma figura que enfrentava uma situação bastante difícil no hospital.
Ocorre que, no período, Jair Bolsonaro cresceu e se consolidou no primeiro lugar das intenções de voto. E, como já se disse aqui, a peça de resistência de sua campanha é o antipetismo ou, mais genericamente, o antiesquerdismo.
Alckmin não disputa o coração do eleitorado propenso a votar em Ciro Gomes ou no PT — nesse caso, a identificação de Lula com Haddad é que acabará determinando o que vai acontecer com o candidato petista. Já o eleitorado dos candidatos do centro para a direita — Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Novo) e Álvaro Dias (Podemos) — podem, do ponto de vista ideológico, se identificar com a pauta de Alckmin. Há ainda os eleitores indecisos e dispostos a votar em branco ou a anular seu voto.
Ora, se Bolsonaro está no raio de visão desses eleitores, então é só deslocar um pouco o binóculo e se vai achar o próprio Alckmin. Assim, a única coisa que faz sentido ao tucano é a desconstrução da imagem de Bolsonaro: para que não passe a atrair mais votos e para que perca a adesão dos que ainda não estão convictos.
E aí Alckmin apelou para o cenário de caos, lembrando, inclusive, elogios de Bolsonaro a Hugo Chávez quando este chegou ao poder. Afirmou o tucano no horário eleitoral:
“Talvez esse seja um dos momentos mais delicados da nossa democracia. O risco de o Brasil se tornar uma nova Venezuela é real, a partir dos extremismos que estão colocados nessa eleição”. E bateu no “extremismo de um deputado que já mostrou simpatia por ditadores, como Pinochet e Hugo Chávez, que já defendeu o uso da tortura, que acha normal que mulheres ganhem menos que os homens. Uma pessoa intolerante e pouco afeita ao diálogo; que, em quase 30 anos de Congresso, nunca presidiu uma comissão sequer. Nunca foi líder de nenhum dos nove partidos a que foi filiado. Um despreparado, que representa um salto no escuro.”
Desconstrução de imagem funciona? Funcionou em 2014. Marina Silva, que assumiu a titularidade da chapa do PSB com a morte de Eduardo Campos, chegou a empatar com Dilma Rousseff em primeiro lugar nas simulações de primeiro turno e a vencer a petista nas de segundo. O PT percebeu o perigo e fez picadinho da candidata, que acabou chegando em terceiro lugar. O rival ideológico da legenda era Aécio Neves, como, no caso de Alckmin, é o PT. Mas foi preciso um ataque a quem competia com o partido no mesmo território.
A investida de Alckmin vai funcionar? Não sei. Mas sei de uma coisa: a única alternativa é também a melhor.
Por Reinaldo Azevedo
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