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No Brasil, circulam pelas redes sociais diversas teorias de que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas. Alguns apontam o fato de os americanos terem demorado a adotar a tecnologia de urnas eletrônicas como um dos indícios de que ela não é confiável. Do ponto de vista técnico, no entanto, o Brasil está mais resguardado do que os Estados Unidos. Nenhum sistema de votação é 100% seguro, mas especialistas em segurança lembram que tecnologias com maior poder de interferência humana, como a votação em papel, são muito mais suscetíveis a fraudes do que as usadas em sistemas eletrônicos. O Brasil ainda tem outra vantagem. Nos Estados Unidos, há seções de votação on-line e em dias distintos dependendo dos estados. Aqui, todo o processo é centralizado pelo Tribunal Superior Eleitoral e as votações ocorrem em datas específicas.
O processo predominantemente off-line também ajuda. As 550 mil urnas distribuídas nas seções eleitorais não têm conexão com a internet e um software garante que elas se autodestruam em caso de tentativa de violação. Um grupo delas é destacado a partir de um sorteio para que se faça a comparação dos votos registrados na urna com os escritos em papel em seções especiais. Ao término da votação, as cerca de 550 mil urnas são encaminhadas até diretórios regionais do TSE e aí, sim, os votos são transferidos por uma rede conectada e segura até a central de apuração. Segundo o TSE, nas últimas eleições, hackers atacaram por diversas vezes a rede. A maioria, ataques de baixa periculosidade, como os de Negação de Serviço (DDos, na sigla em inglês). O TSE chegou a registrar picos de 200 mil ataques por segundo numa modalidade que tenta sobrecarregar a rede para tirá-la do ar. O TSE também convida partidos políticos a participarem da auditoria de todo o sistema, além de grupos de hackers de diversas universidades brasileiras para tentarem fraudar o sistema.
Isso não quer dizer que o sistema brasileiro não tenha falhas. E, a exemplo dos Estados Unidos, a principal delas ocorre numa etapa anterior à da votação em si. Há ainda muita fraude na emissão de títulos de eleitores. Em alguns casos, o TSE identificou o mesmo indivíduo com dez títulos de eleitor para votar em seções diferentes na mesma cidade. Esse problema, no entanto, deve ser resolvido quando a biometria tornar-se o padrão de confirmação de voto. Tecnicamente, com o uso da impressão digital para “assinar” um voto, ficaria impossível para alguém votar mais de uma vez.
Essa segurança da infraestrutura de votação não tira dos hackers o poder de influenciar as eleições em outras frentes, como ficou claro no caso dos vazamentos dos e-mails do Partido Democrata. A ofensiva hacker é silenciosa, difícil de rastrear e sua influência é desconhecida. Uma lição para os partidos e órgãos governamentais de países democráticos. Nos próximos anos, é melhor que os partidos tenham sistemas tão protegidos quanto os usados nas urnas. Os hackers sempre procurarão o caminho mais vulnerável. E a guerra da desinformação e do vazamento de dados sigilosos pode tirar tantos votos quando a inutilização de urnas eletrônicas.
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