Submetido a uma torrente de horrores, o brasileiro se espanta cada vez menos. O Brasil tornou-se um país de pouquíssimos espantos. Mas Lula exagerou. Foi interrogado pela Procuradoria da República sobre a suspeita de tráfico de influência em favor de empreiteiras. Depois, em nota divulgada no site do instituto que leva o seu nome, o ex-presidente tentou suprimir do fato o ponto de exclamação.
Em linguagem leve, o texto anota que Lula “esteve” com o procurador da República Ivan Cláudio Marx. Acrescenta que o morubixaba do PT “prestou voluntariamente depoimento.” Ora, Lula não fez uma visita casual ao doutor. Apresentou-se a um investigador que apura a suspeita de que tenha beneficiado ilegalmente empreiteiras na época em que presidia a República.
Lula falou “voluntariamente” para se antecipar ao constrangimento de uma intimação. Antes, o morubixaba do PT tentara questionar formalmente a investigação. Mais: atuara para desqualificar os investigadores e trancar o inquérito. Fez tudo isso também voluntariamente. Só que não colou.
Depoimento de um ex-presidente em inquérito que o trata como suspeito não é algo banal. Sobretudo quando se considera que as empreiteiras supostamente beneficiadas tornaram-se clientes da empresa de palestras de Lula, hoje um próspero ex-presidente. Desnecessário recordar que as mesmas construtoras frequentam os processos da Lava Jato de ponta-cabeça.
Logo, logo Lula terá de depor à Polícia Federal. O delegado Josélio de Sousa já pediu. E o STF autorizou. Nesse caso, o doutor deseja inquirir Lula porque, “na condição de mandatário máximo do país” na época do assalto à Petrobras, ele “pode ter sido beneficiado pelo esquema […], obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal.”
O que se passa com Lula não é algo trivial. Só o Instituto Lula não se espanta. Amanhã, se os procuradores da Lava Jato e o juiz Sérgio Moro intimarem Lula para prestar depoimento em Curitiba, o ex-presidente e sua entidade decerto soltarão outra nota. O texto, de novo, não fará a concessão de uma surpresa. É outro interrogatório? Pois Lula terá prazer em visitar a força-tarefa. E voluntariamente.
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