Esgotados todos os prazos e as prorrogações concedidas ao governo para que se explicasse ao TCU sobre as pedaladas fiscais de 2014, o governo decidiu arguir a suspeição do relator do caso, ministro Augusto Nardes. Fez isso a 72 horas do julgamento, depois de farejar a derrota. Pela primeira vez em 80 anos, o TCU deve rejeitar as contas de um presidente da República. Não tendo mais explicações a oferecer, o governo insinua que o julgamento estaria contaminado pela política.
O contrário do antigovernismo primário é um pró-governismo inocente, que aceita todas as presunções do governo a seu próprio respeito. Em matéria de prestação de contas, isso inclui aceitar que Dilma tem uma missão de inspiração divina e, portanto, indiscutível.
Todos os governos cultivam seus mitos de excepcionalidade. Mas é inédita na história essa pretensão da gestão Dilma a ser uma potência moral, que só deve contas à sua própria noção de superioridade moral. Inédito também o grau de submissão que o governo exige de todos, inclusive dos ministros do TCU, aos mitos autocongratulatórios e à sua missão evangelizadora.
Não é a hipocrisia do governo com sua desfaçatez fiscal que assusta. O que assusta mesmo é que Dilma e seus devotos não estão sendo cínicos. Eles acreditam mesmo que a missão da primeira presidenta da história dá ao governo o direito de manipular o orçamento para fins que desafiam, muitas vezes, não só a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas o bom senso.
É como se as autoridades perguntassem: como poderiam os fins de uma presidente incomum ser julgados com base na lei e no senso comum?
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