A ex-presidente da Petrobras Graça Foster |
Uma sucessão de e-mails trocados pela cúpula da Odebrecht após a prisão do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, já condenado na Lava Jato, revela uma conversa em que a então presidente da estatal, Maria das Graças Foster, fala na existência de uma "quadrilha" na Petrobras. As mensagens apreendidas pela Polícia Federal foram trocadas entre executivos da Odebrecht em 24 de julho de 2014, quatro meses após a prisão de Costa.
"Pense bem antes de ir e se definir em que quadrilha você pertence", teria dito Foster ao gerente executivo de Abastecimento da Petrobras, Wilson Guilherme, apontado com testemunha de defesa de Costa. A frase foi atribuída a Foster por Rogério Araújo, então diretor da Odebrecht, em e-mail enviado às 18h04 para o presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, e para outro diretor, Márcio Faria. Os três estão presos desde 19 de junho.
Eles citam também dirigentes da Petrobras que seriam presos na Lava Jato meses depois, entre eles o ex-diretor de Serviços Renato Duque, apontado como homem do PT no esquema de propinas da estatal. Para os investigadores, o conteúdo dos e-mails demonstra que a cúpula sabia do esquema instalado na companhia e também do papel de Duque como arrecadador do PT. "Duque (dinheiro para Partido)", consta em uma mensagem.
A sequência de e-mails foi capturada pela Polícia Federal nos computadores da Odebrecht, em São Paulo. São oito correspondências ao todo.
Em julho de 2014, quando os e-mails foram trocados, a Petrobras fervia ante o escândalo. Paulo Roberto Costa era um dos nomes mais influentes da companhia. Sua prisão abalou a estatal. No mês seguinte, o ex-diretor fez delação premiada e escancarou o esquema de corrupção e propinas envolvendo cerca de cinquenta políticos, entre deputados e senadores, e outros dirigentes da Petrobras.
Nas mensagens, os executivos da Odebrecht tratam Paulo Roberto Costa pelas iniciais de 'PR' e Maria das Graças Foster, por 'MGF', segundo análise dos investigadores. "Como sabemos, foram indicadas algumas pessoas da companhia como testemunhas para processo PR. Uma delas, Wilson Guilherme (GEX Abast) foi abordado por MGF na seguinte linha: "pense bem antes de ir e se definir em que quadrilha você pertence!!", diz Rogério Araújo a Marcelo Odebrecht e Márcio Faria.
O presidente da Odebrecht diz em seguida: "Não sei se entendi bem a mensagem dela." Rogério Araújo explica. "Se for da quadrilha do PR, depor favorável a ele." Marcelo Odebrecht responde. "Ou seja, ela quer detonar o PR? Não apenas não ajudar como atacar? Acha que não tem refluxo?"
A comunicação cita outro dirigente da Petrobras, preso na Lava Jato, Nestor Cerveró (Internacional), e também o ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, que não é acusado. Às 18h21 daquele dia, Rogério Araújo diz. "Também detonar Duque (será testemunha), Cerveró e Gabrielli. Não sei se tem alinhamento com PR�."
Marcelo Odebrecht argumenta: "Seria bom se tivéssemos certeza desta postura dela, pois seria mais um ponto de minha conversa amanhã. Isto é suicídio, só vai prejudicar governo e empresa".
Às 18h35, Rogério Araújo concorda com Marcelo Odebrecht. "Com relação ao WG certeza absoluta! Com relação ao Duque ela fez o seguinte comentário numa apresentação GT a DE, sobre ação do Imbassay junto a Proc Geral União acerca RNEST arrolando ex-diretoria e atual para escutar a apresentação solicitou ao Jurídico (Nilton Maia) para preparar trabalho defesa da atual diretoria e disse que não poderia fazer mesmo com PR (se beneficiou) e Duque (dinheiro para Partido)!. Quanto ao Cerveró e Gabrielli, tem feito comentários ruins face Pasadena."
Na última mensagem Rogério Araújo cita mais um diretor da Petrobras, preso na Lava Jato, Jorge Zelada (Internacional): "Outro que ela detona é Zelada."
Graça Foster, a Odebrecht e a Petrobras não se pronunciaram sobre o conteúdo das mensagens.
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