Vamos lá. Na véspera de o TCU votar o relatório do ministro Augusto Nardes, que recomenda a rejeição das contas do governo federal relativas a 2014, vem a público uma denúncia contra… Augusto Nardes. Não é o primeiro a ser alvo. Já frequentaram a fila de acusados Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Vital do Rêgo. Não! Mais uma vez, a exemplo do que já escrevi sobre Eduardo Cunha, não estou asseverando a inocência de ninguém. Eu estranho os métodos e as coincidências.
Um estado em que há seleção de alvos, ou em que alvos são escolhidos como retaliação, abriga certamente pessoas que têm uma convicção policial desse mesmo estado. Nardes é ministro do TCU há dez anos. Como não estranhar que as acusações contra ele se adensem justamente agora? Então mais uma personagem que pode criar dificuldades para o governo vai para o paredão das denúncias? Não dá para fazer de conta que isso é corriqueiro. Do jeito como andam as coisas, se Jesus voltar à Terra e acusar Dilma de alguma impropriedade, não tardará para que apareça alguma tramoia do Nazareno. Vão acusá-lo de ter desviado madeira da carpintaria.
Abaixo, transcrevo trecho de reportagem da Folha. O que pode haver – é o caso de escrever assim – contra o ministro ainda é frágil. Em outras circunstâncias, talvez a informação fosse vazada bem mais tarde. Mas sabem como é a máquina… Ela não perdoa.
A imprensa, obviamente, não tem que ficar pesando certas coisas. Se a PF e o Ministério Público Federal encontraram indícios de que o ministro recebeu ou pode ter recebido valores indevidos, é preciso noticiar. Mas também é preciso sopesar as circunstâncias para que não nos comportemos como inocentes úteis de magos e sicários palacianos.
Leiam trecho de reportagem de Gabriel Mascarenhas, Marina Dias e Rubens Valente.
*
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal encontraram indícios de que o ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes pode ter recebido R$ 1,65 milhão de uma empresa investigada sob suspeita de envolvimento com fraudes fiscais. Como ministro do TCU, Nardes só pode ser investigado e processado com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal). Nesta terça (6), a Justiça Federal decidiu que os autos serão encaminhados à Procuradoria-Geral da República, para que opine sobre o prosseguimento das investigações. Relator das contas da presidente Dilma Rousseff no TCU, Nardes tornou-se alvo de suspeitas porque foi sócio até 2005 de uma empresa chamada Planalto Soluções e Negócios, registrada em nome de seu sobrinho, Carlos Juliano. A empresa é investigada pela Operação Zelotes, que apura suspeitas de fraudes praticadas para comprar decisões do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), órgão do Ministério da Fazenda que julga recursos de empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal. Segundo os investigadores, Nardes e o sobrinho receberam na Planalto vários pagamentos da SGR Consultoria, que teria corrompido conselheiros do Carf para favorecer empresas que recorreram ao órgão para discutir multas.
Os pagamentos, no valor total de R$ 2,6 milhões, teriam ocorrido entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, quando Nardes já era ministro do TCU e estava desligado da Planalto. O ministro diz desconhecer os pagamentos. Segundo os investigadores, há referências a Nardes em mensagens eletrônicas enviadas em janeiro de 2012 pela secretária da SGR, Gegliane Bessa, ao dono da empresa, o ex-conselheiro do Carf José Ricardo Silva, um dos principais suspeitos do caso. Nas mensagens, Gegliane diz ter pago R$ 1,65 milhão a uma pessoa identificada como “Tio” e R$ 906 mil a “Ju”. Para os investigadores, há “fortes indícios” de que “Tio” é Nardes e “Ju”, seu sobrinho.
ANOTAÇÕES
Além das mensagens, os investigadores dizem ter encontrado anotações feitas por suspeitos que confirmariam as operações financeiras e concluíram que as referências indicam Nardes como “destinatário dos recursos”. O motivo dos pagamentos ainda não está claro, mas os investigadores desconfiam que a Planalto pode ter recebido por ter aproximado a SGR de um dos seus clientes com problemas no Carf, o grupo gaúcho de comunicação RBS. Nardes, que é natural de Santo Ângelo (RS), foi deputado federal pelo PP gaúcho de 1995 a 2005, antes de ser indicado ministro do TCU. Em 2011, após pagar R$ 11,9 milhões à SGR, a RBS obteve uma vitória no Carf. Os pagamentos da SGR à Planalto ocorreram na mesma época de pagamentos da RBS à SGR.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário