A presidente Dilma Rousseff concedeu uma entrevista ao canal CNN em espanhol e afirmou: “Se dinheiro de suborno chegou a alguém, essa pessoa será responsável. Eu tenho certeza de que minha campanha não teve dinheiro de subornos”. É mesmo? Trata-se de uma entrevista ou de uma corda no pescoço?
E se a evidência aparecer? Ao fazer uma declaração como essa, entendo que Dilma afirma ter ciência de todo o mecanismo que regula o financiamento de sua campanha. Só assim se pode ter “certeza”, né? Caso se demonstre o contrário, só se pode concluir que ela mentiu. Não restará nem o espaço de manobra para dizer “eu não sabia”.
O petrolão é mais um dos escândalos que têm a sua cota de surrealismo. Então se descobre que uma verdadeira organização criminosa operava na Petrobras — e onde mais? —, atrelada, segundo seus próprios operadores e alguns empreiteiros, a financiamento de campanhas eleitorais, muito especialmente as do PT, mas devemos acreditar que a campanha presidencial, justamente a mais importante e dispendiosa, passou incólume pelo esquema de roubalheira e financiamento ilegal.
Por incrível que pareça, quando se coloca tudo na ponta do lápis, o mais perto que a apuração do Ministério Público chegou de Dilma foi por intermédio de Antonio Palocci. Segundo Paulo Roberto Costa, o ex-ministro, um dos coordenadores da primeira campanha eleitoral da agora presidente, lhe pediu R$ 2 milhões, dinheiro que teria sido liberado por Alberto Youssef, que, no entanto, nega o pagamento.
Segundo apuração da revista VEJA, Ricardo Pessoa, dono da UTC, estaria disposto a contar em delação premiada que teria doado R$ 30 milhões, por fora, ao PT em 2014 — R$ 10 milhões desse total teriam ido para a campanha de Dilma. Mas, até agora, o empresário não firmou acordo nenhum com o Ministério Público.
Desde o começo desse troço tenho alertado para o risco — a cada dia mais presente — de que o petrolão seja mesmo tratado como um grande complô de empreiteiras, que decidiram se unir em cartel, para assaltar a Petrobras, com o concurso de um político bandido ou outro. A demonização dos empresários, que santos não são, segue a todo vapor.
Nesta quarta, ao negar um habeas corpus para José Ricardo Nogueira Breghirolli, um funcionário da OAS, o ministro Teori Zavascki afirmou: “Se este [o delito] for grave, de particular repercussão, com reflexos negativos e traumáticos na vida de muitos, propiciando àqueles que tomam conhecimento da sua realização um forte sentimento de impunidade e de insegurança, cabe ao Judiciário determinar o recolhimento do agente”.
Pois é… Aos empresários e associados que financiavam campanhas, nem o habeas corpus. Tudo em nome do sentimento de justiça da sociedade! Aos políticos financiados, até agora, nada! No caso de Dilma, Rodrigo Janot acha que ela não tem nem de ser investigada. Afinal, como ela mesma diz, tem “certeza” de que sua campanha não teve dinheiro de subornos.
É verdade! Essa é uma história de lobos maus culpados e de uma Chapeuzinho Vermelho inocente. Até agora, infelizmente, a narrativa construída se presta a isso, apesar da retórica incendiária de alguns, que serve para embalar trouxas e oportunistas.
Por Reinaldo Azevedo
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