sábado, 26 de julho de 2014

Carta de Israel Klabin ao ministro Luiz Alberto



Ao Excelentíssimo Senhor
Ministro das Relações Exteriores
Luiz Alberto Figueiredo Machado

Sempre tive, bem como a minha família, íntima relação com o Itamaraty através de dois chanceleres: Horácio Lafer e Celso Lafer, ambos judeus, que honraram não apenas o nome da família, mas o Brasil e sua política externa.

Não preciso lembrá-lo também da importância de Oswaldo Aranha, quando Embaixador junto a ONU, na criação do Estado de Israel, trazendo com isso o agradecimento de todos os judeus do mundo.

É, portanto, com estranheza que acabei de ler a séria ofensa feita ao Estado de Israel e a todos nós judeus, pelo Itamaraty, quando “chamou o Embaixador para consulta”.

Tanto meus pais quanto eu, fazemos parte das gerações que atravessaram o holocausto e herdaram a missão de prestar serviços à humanidade e aos países que agasalharam os judeus na fuga milenar das perseguições oriundas de preconceitos, de ódios raciais e religiosos.

A nota do Itamaraty demonstra claramente um retrocesso da política fracassada de levar o Brasil para um envolvimento errado e desnecessário, antagônico ao princípio de não intervenção, o que tem sido um dos pilares da política externa brasileira através dos tempos.

A análise preconceituosa do que realmente está acontecendo no conflito em Gaza, seguramente levou o Itamaraty a conclusões apressadas e equivocadas.

Israel se defende de ataques de grupos terroristas, do Hamas associado ao Hezbollah, ao Irã e de tudo aquilo que é mais odiento na evolução política do Oriente Médio. Estranho o Brasil omitir-se em relação a esses grupos que tentam, pelo terror, “jogar os judeus ao mar”. Isto seguramente não acontecerá.

Ninguém mais do que o próprio Estado de Israel e as comunidades judaicas do mundo lamentam a perda inútil de vidas humanas provocadas pelo uso suicida das populações civis de Gaza, pelos terroristas de Hamas. Por outro lado, choramos também pelos soldados israelenses que tombaram lutando pela segurança do Estado e de suas famílias.

Pela admiração que tenho por V. Exª., gostaria que fosse levado em conta não apenas pressões políticas imediatistas, internas ou externas ao Itamaraty, mas também os grandes serviços que a comunidade judaica brasileira vem prestando ao nosso país no passado, no presente, bem como nosso compromisso com o futuro do Brasil, nosso país, e de Israel como centro da nossa cultura.

Respeitosos cumprimentos,

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