Dora Kramer
Foi preciso o Supremo Tribunal Federal pregar à testa de João Paulo Cunha o
carimbo de corrupto para o PT se dar conta da inadequação de ter como candidato
a prefeito um réu em processo criminal.
Foram necessários nove contundentes votos de condenação por corrupção passiva
e peculato para que o deputado pensasse em desistir de buscar absolvição "de
fato" junto ao eleitorado de Osasco.
Antes disso estava tudo normal. Três ministros gravaram manifestações de
apoio para o horário eleitoral. Míriam Belchior, do Planejamento, lugar tenente
da presidente da República, emprestou seu aval considerando "muito importante
eleger João Paulo" para dar continuidade ao "modo petista de governar".
Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, ligou o futuro da cidade à eleição
do réu: "Com o governo Lula e agora com a presidente Dilma estamos transformando
o Brasil. Com uma prefeitura aliada ao governo federal podemos fazer ainda mais.
Por isso, em Osasco, vote em João Paulo Cunha".
Aldo Rebelo, do Esporte, externou seu apoio ao "companheiro e amigo" com
"muita honra e orgulho" pela trajetória de "serviços prestados aos interesses de
Osasco e do Brasil como vereador, deputado estadual, deputado federal e
presidente da Câmara".
Pois foi preciso o Supremo demonstrar com todos os efes e erres que antes dos
interesses nacionais e regionais João Paulo defendia a causa própria para que o
PT passasse a considerá-lo um peso em cima do palanque.
Agora aparecem os engenheiros de obra pronta dizendo o quanto haviam alertado
para a impropriedade da candidatura, atribuindo o gesto temerário à vontade de
João Paulo que tinha a "máquina" na mão.
Ora, sobre vontades no PT dão notícias mais precisas as candidaturas de Dilma
e Fernando Haddad. Quem tem "querer" ali é Lula, que, se alguma preocupação com
as aparências tivesse, teria feito João Paulo se recolher.
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