Dora Kramer
Tudo bem, o senador Jorge Viana, o presidente da Câmara, Marco Maia, e
companhia bela resolveram transitar na contramão, senão da História, porque esta
não se faz de imediato, mas da lógica. É um direito que os assiste.
Atacam o
Supremo Tribunal Federal, reclamam da imprensa e denunciam "preconceito das
elites" sem levar em conta que reagem na realidade às consequências de atos
cometidos pelo próprio partido.
Os juízes fazem justamente o que desde sempre se cobra da Justiça: a
aplicação rigorosa da lei sem olhar a quem.
Maia chama de falacioso (capcioso, intencionalmente enganador) o voto do
relator Joaquim Barbosa que reconhece a existência da compra de apoio de
partidos ao primeiro governo Lula.
Viana fala em "golpe" contra o PT e o secretário de comunicação do partido,
André Vargas, aponta "risco para a democracia" nas transmissões ao vivo das
sessões do STF.
Graças à bem articulada transição democrática da qual o PT se afastou quando
renegou o sentido da eleição indireta de Tancredo Neves como ato de imposição de
derrota política à ditadura, o País vive desde o século passado em estado de
liberdade plena.
Defendem-se quaisquer ideias e teoricamente ninguém tem nada com isso. É
sagrado todo direito, inclusive ao esperneio.
Afastada a ameaça à democracia apontada pelo deputado Vargas, uma vez que a
transmissões do que se passa no tribunal é garantia do preceito constitucional
da transparência, resta sempre o risco do ridículo.
O que dirão os autores das pesadas críticas ao Supremo se ao fim do
julgamento houver absolvições inesperadas?
E se não prevalecer totalmente a posição do relator Joaquim Barbosa? Se, por
hipótese, José Genoino for considerado mero "mequetrefe" e José Dirceu não puder
ser enquadrado na categoria "chefe de quadrilha" por falta de provas? Como
ficarão os difamadores do STF?
É uma possibilidade remota? É altamente improvável, mas não impossível.
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