Nelson Motta:
Por graça do acaso, os dois maiores sucessos populares do ano, a novela
“Avenida Brasil” e o julgamento do mensalão, vão terminar juntos, ou quase.
Condenados e absolvidos pelo Supremo vão se misturar com personagens amados e
odiados pelo público, vilões e heróis da ficção e da realidade terão seus
destinos cruzados na história viva do país.
Nina e Carminha foram capazes das piores vilanias, mas também poderão ser
vistas como heroínas. Não por suas obsessões doentias pela vingança e o poder,
mas como sobreviventes dos lixões da vida, que, movidas pela paixão, são levadas
a comportamentos heroicos na luta por seus objetivos conflitantes.
Roberto Jefferson e José Dirceu também foram capazes das piores vilanias, mas
por suas causas partidárias e objetivos políticos. Movidos por seus instintos
mais primitivos, tentam se mostrar heroicos no mensalão, um como mártir da
verdade e o outro de uma conspiração das elites. Dirceu diz que o PT pode ter
todos os defeitos, menos a covardia. A omertá de Delúbio fez dele um herói, mas
Dirceu se imolará por Lula?
Mas o grande herói da novela do mensalão é o ministro Joaquim Barbosa, que
passou como um tufão sobre a impunidade de políticos, empresários e banqueiros.
Sua já famosa foto de costas, com sua capa negra de Batman justiceiro, virou um
ícone que se espalha como um vírus de esperança pela internet, anunciando que a
coisa está preta, no bom sentido, para os malfeitores. As redes sociais gritam
“Barbosa guerreiro, do povo brasileiro”.
A competência, a independência e a integridade do ministro Joaquim e das
ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber têm feito mais pelo orgulho e progresso de
negros e mulheres do Brasil do que todos os discursos e campanhas feministas e
racialistas recentes.
A grande diferença é que a novela acaba e o mensalão continua,
ultrapassando a ficção. Quem diria que mais vilões seriam condenados e presos no
mensalão do que na novela? Cenas dos próximos capítulos: seguindo a
jurisprudência do Supremo, os elencos dos mensalões de Minas e de Brasília serão
condenados pelos juízes, a opinião pública e a história. Oi, oi, oi.
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