Finalmente, boas notícias para a família Bolsonaro. As "explicações" de Fabrício Queiroz ao Ministério Público não provocaram nenhum aumento na suspeição que ronda o antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. As suspeitas permanecem nos mesmos 100%.
O cinismo de Queiroz deve recolocar Jair Bolsonaro nas manchetes de ponta-cabeça. Mas as dúvidas suscitadas pelo repasse de R$ 24 mil da conta bancária radioativa de Queiroz para a conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro tampouco aumentaram. Permanecem no mesmo patamar: 100%.
Em dezembro, pouco antes de assumir o trono, o capitão dissera que o dinheiro encontrado na conta de sua mulher era parte do pagamento de empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz (reveja no vídeo que adorna esse post). No mundo convencional, essas transações geram contratos de mútuo ou notas promissórias. No mundo dos Bolsonaro e de Queiroz, não.
Bolsonaro disse ter emprestado os R$ 40 mil a Queiroz aos poucos, não de uma vez. Se tivesse repassado o dinheiro por transferências bancárias, a coisa teria aparecido no levantamento em que o Coaf esquadrinhou a conta de Queiroz. Mas o órgão não encontrou senão os R$ 24 mil enviados de Queiroz para Michelle.
O presidente pode ter socorrido o amigo de uma forma mais primitiva, repassando-lhe dinheiro vivo. Nessa hipótese, faria um bem inaudito à própria biografia se informasse de onde veio o dinheiro. Despertaria nos brasileiros o hábito de poupar se explicasse as vantagens de manter dinheiro sob o colchão.
Segundo Bolsonaro, os pagamentos de Queiroz foram parar na conta de sua mulher porque ele não dispõe de "tempo para sair". Faltou explicar por que Queiroz não fez um DOC ou uma TED em nome do capitão. Ou, por outra, por que Bolsonaro, então deputado federal, não enviou à fila do banco um dos seus inúmeros assessores?
Espremido pelos repórteres em dezembro, Bolsonaro disse não ter anotado no Imposto de Renda o alegado empréstimo que fez a Queiroz. "O empréstimo foi se avolumando e eu não posso, de um ano para o outro, (colocar) mais R$ 10 mil, mais R$ 15 mil. Se eu errei, eu arco com a minha responsabilidade perante o fisco. Não tem problema nenhum."
O Planalto ainda não informou se o presidente já regularizou sua situação perante o Fisco. Mas os auditores fiscais já perscrutam as declarações de rendimentos de Queiroz e seus beneficiários visíveis. Michelle Bolsonaro, por exemplo. A apuração pode resultar em dissabores, pois a conta de Queiroz cheira mal.
Ao tentar justificar a movimentação bancária suspeita de R$ 1,23 milhão entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017, Queiroz disse ao Ministério Público que gerenciava salários de outros assessores de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio para pagar "colaboradores informais". Trata-se de confissão, não de explicação.
Havia também na conta, disse Queiroz, salários da mulher e dos filhos. Coisa de um patriarca "tradicional". De resto, pingava no banco o resultado do suor que o amigo dos Bolsonaro derramava em atividades informais: segurança particular, compra e venda de carros e eletroeletrônicos, vestuário e corretor de imóveis.
Queiroz não disse palavra sobre os R$ 24 mil que borrifou na conta da primeira-dama. Silenciou sobre os repasses feitos ao próprio Flávio Bolsonaro.
De resto, não há em meio às nove folhas que Queiroz levou ao Ministério Público nada que se pareça com uma prova da contratação de colaboradores informais para Flávio Bolsonaro. Nem sinal de algo capaz de comprovar o talento de Queiroz como vendedor de qualquer coisa.
Nesse contexto, a menos que o capitão leve ao palco meia dúzia de explicações, a participação especial de Fabrício Queiroz no enredo da família Bolsonaro vai acabar virando um desses espetáculos de teatro extremamente badalados que fracassam porque o público não foi devidamente ensaiado.
O Ministério Público suspeita que Queiroz é "laranja". O que se enxerga em cena, porém, é a conversão do personagem em bala perdida no rumo de Jair Bolsonaro.
Por Josias de Souza
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