sexta-feira, 29 de março de 2019

MEC - O núcleo duro da baderna



O Ministério da Educação (MEC), onde são tomadas decisões que moldam o futuro dos brasileiros, é hoje o epicentro do pandemônio no governo federal. Ali, os projetos estão emperrados, as brigas ideológicas atravancam decisões, as demissões ocorrem em série — e a educação, um dos temas mais importantes da agenda nacional, está à deriva. Em apenas 85 dias de governo, o MEC já registrou nada menos que quinze baixas em cargos de alto escalão. A secretaria executiva, o segundo posto de maior relevância, seguia sem secretário até o fechamento desta edição. Houve duas tentativas consecutivas de nomear alguém — e ambas fracassaram. Na semana passada, quando o Palácio do Planalto derretia em confronto com o Congresso, o MEC do ministro Ricardo Vélez entrou em cena e ajudou a aumentar ainda mais a confusão.

Na segunda-feira 25, a secretária de Educação Básica, Tania Almeida, cumpria uma missão importante: convocou uma reunião via Skype para destravar repasses a estados e municípios, que estavam paralisados pela falta de respostas do ministério. Sua nobre iniciativa emperrou no mesmo dia: Tania Almeida, surpreendida por uma decisão que adiava para 2021 a avaliação de alunos de 7 anos na etapa de alfabetização, perdeu a paciência e pediu demissão. Claro: aquela conversa no Skype para agilizar repasses a estados e municípios caiu no vazio e emperrou de novo, como tem acontecido com quase tudo no MEC do ministro Ricardo Vélez.

A confusão não terminou com a demissão de Tania Almeida e é ilustrativa da algazarra que vive o MEC. Ela era contra o adiamento da avaliação, mas o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, responsável direto pela avaliação, era a favor. Ele, então, preparou uma portaria postergando a medição para 2021. O ofício do adiamento foi então enviado ao presidente do Inep, Marcus Vinícius Rodrigues, responsável pelas aferições oficiais do ensino. Rodrigues assinou o documento do adiamento. Divulgada a decisão, os especialistas denunciaram que o adiamento era um tremendo retrocesso. Impressionado com a má repercussão, o que fez o ministro Vélez? Mandou chamar o presidente do Inep para demiti-lo.

O diálogo foi rápido. “Como o senhor assina uma portaria sem me consultar?”, questionou o ministro de pé, irritado, dedo em riste. Rodrigues explicou que assinaturas de portarias são rotineiras em sua função (e são mesmo) e aquela tinha sido protocolar, por entender que o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, era o dono da decisão. “O senhor está demitido”, disse o ministro, querendo conduzir à porta o interlocutor, que declinou. “Na minha terra só se abre a porta para alguém quando é para voltar”, disse Vinícius Rodrigues a VEJA. E disparou: “Não acredito que o decreto tenha sido feito sem o conhecimento do ministro. Nadalim é um dos poucos que entram e saem do gabinete sem bater à porta”. No dia seguinte, em depoimento à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, Vélez disse que a tal portaria, já revogada, ainda estava em debate e que o ato de Vinícius Rodrigues fora “uma puxada de tapete.”

O MEC de Vélez foi transformado na central da anarquia. O ministro está enfraquecido, bombardeado por evangélicos, militares, partidos, e vive enredado com os “olavetes”, cujo mestre é o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, que mora nos Estados Unidos. Aos chamados vélezianos, restaram apenas quatro secretarias. Vélez está isolado no próprio feudo. Um dos fatores que o mantiveram no cargo até agora é de fundo prático: Bolsonaro não quer demiti-lo durante a crise do governo com o Congresso e, com isso, contribuir para aumentar o clima de incerteza.
(...)

Leia íntegra Na Veja.com

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