A Mangueira prometeu e cumpriu: fez um desfile radical, povoado de críticas à história oficial brasileira e a vultos de nosso passado. O objetivo ficou claro já na comissão de frente, em que os heróis emoldurados citados no samba surgiam diminutos, de pernas curtas – entre eles, D. Pedro I, Princesa Isabel e Pedro Álvares Cabral.
A partir daí, houve louvações a personagens negros e índios e condenações a figuras como Duque de Caxias que, num dos carros, pisoteava corpos.
O carnavalesco Leandro Vieira levou também para o Sambódromo um episódio ocorrido em 2016, a pichação do Monumento às Bandeiras, em São Paulo. Na alegoria, os danos à obra foram apresentados como marcas do sangue derramado por heróis populares.
Apesar do tema pesado, a escola veio leve, evoluiu sem problemas e precisou segurar os componentes no fim do desfile para cumprir o tempo minimo obrigatório. Na Apoteose, foi saudada pelo público com gritos de “campeã”.
Como previsto, Monica Benicio, viúva da vereadora Marielle Franco, morta em março de 2018, desfilou pela escola – veio no chão, ao lado da cantora Rosemary. Na última ala, componentes agitaram bandeiras com rostos da parlamentar assassinada e de mangueirenses ilustres como Cartola e Nelson Cavaquinho.
O desfile da Mangueira foi um contraponto ao da Unidos de Vila Isabel, na mesma madrugada. Um, o mangueirense, não poupou os personagens históricos e a narrativa oficial; o outro os exaltou, principalmente a família imperial. Sobraram histórias na Sapucaí.
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