terça-feira, 26 de setembro de 2017

Triste o país em que, no embate com o Ministério Público, alguém como Cunha possa estar certo



Nesta segunda, ora vejam, o ex-deputado Eduardo Cunha resolveu tornar pública uma nota em que contesta as acusações do doleiro. Afirma:
“Repudio com veemência o conteúdo [ele se refere à delação]. [Trata-se] de mais uma delação sem provas, que visa a corroborar outras delações também sem provas, onde o delator relata fatos [de] que inclusive não participou e não tinha qualquer possibilidade de acesso a informações”.

Para Cunha, as delações premiadas atingiram o “ponto máximo da desmoralização”. Segundo diz, “basta concordar com qualquer coisa que a acusação encomendar para obter infinitos benefícios”.

Como discordar? Querem um exemplo gritante? Até agora, nenhuma das acusações feitas por Sérgio Machado se confirmou. Ele segue como o segundo delator mais bem-aquinhoado pelo Ministério Público Federal — o primeiro é um grupo: a turma da JBS. Sua delação, no entanto, está se mostrando uma peça de ficção. Não obstante, o doutor conseguiu livrar integralmente a cara de dois filhos que participaram de suas falcatruas na Transpetro, e ele próprio pegou pouco mais de dois anos de prisão domiciliar. Bastou que dissesse o que o MPF queria ouvir. E ele disse.

Pois é, meus caros, triste o país em que alguém com a biografia de Eduardo Cunha está certo no embate com o ex-titular da PGR e, a rigor, com a Operação Lava Jato. As coisas não param por aí: dados que vieram a público da dita “delação monstruosa” do Mato Grosso — essa foi a classificação que lhe deu Luiz Fux, o relator no Supremo — evidenciam que, mais uma vez, o que se tem é um arranjo, um acerto de narrativas, sob a condução de membros do MPF, para causar o máximo de impacto na sociedade. Há aspectos formais dessa delação que são do arco da velha.

Não há dúvida de que há corrupção no Brasil e de que é preciso atuar com firmeza para debelá-la. Mas o MPF não pode, sob o pretexto de cassar e caçar bandidos, ignorar o arcabouço legal. O fato é que o ex-procurador geral e seus “menudos” da Força Tarefa buscavam e buscam a desmoralização da política, colocando-se, então, como um Poder Moderador, mas com poder de Polícia.

Consta que Cunha ainda quer fazer a delação. Por que não se acertou com a Força Tarefa ou com Janot? Teria coisas cabeludas a revelar, mas só um feixe de ação interessava aos valentes do MPF: acusar Temer, demonizar Temer, derrubar Temer.

E então veio o vale-tudo. Eis aí.

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