Teremos direito, mas só no futuro, a revelações de Rodrigo Janot sobre a bomba que colocou em cima da mesa quatro meses atrás e que até agora não explodiu
O procurador-geral Rodrigo Janot, que está para ser substituído nos próximos dias, anunciou que vai escrever nada menos que dois livros sobre a sua passagem pelo cargo. Nessa ocasião revelará, segundo promete, pormenores inéditos daquela que parece ser a maior realização de sua vida: a doação, em caráter perpétuo, de um perdão para os mais de 200 crimes confessados pelo empresário Joesley Batista, em troca de uma delação termonuclear que acabaria com o governo Michel Temer. A declaração desperta de imediato algumas curiosidades. A primeira pergunta que vem à mente é: por que dois livros? Tudo isso? Dante Alighieri precisou de um livro só para escrever a Divina Comédia – será que o procurador-geral tem mais coisas a dizer que ele? Uma segunda pergunta: por que o procurador-geral acha que sua passagem pela função merece ser contada em dois livros inteiros, ou mesmo num livro só? Obviamente, a liberdade de expressão lhe dá o direito de escrever quantos livros quiser, e sobre os assuntos que quiser. Ninguém tem nada a ver com isso. Mas obras de próprio punho por parte de altas autoridades se dividem em apenas dois tipos: as que são mortalmente chatas, e mal conseguem ser lidas pela própria família do autor, ou as que prometem segredos de Estado capazes de abalar o movimento de translação da Terra e que, quando vai se ler, acabam por não entregar nada. Em ambos os casos, são o que há em matéria de coisa inútil.
Janot informou, ao anunciar sua futura obra, que se sentiu obrigado a registrar por escrito os eventos de sua passagem pelo cargo. “Devo isso à sociedade brasileira”, disse ele. Vem, então, uma terceira pergunta: por que, com todo o respeito, o procurador-geral acha que a sociedade brasileira se sente credora das suas memórias? Alguém lhe cobrou alguma coisa? Quanta gente estaria realmente interessada nesse assunto? E se está devendo, por que já não pagou? Enfim, uma quarta e última pergunta, talvez necessária para esclarecer melhor a terceira: por que o procurador não revela agora, enquanto está no cargo, as “coisas” que promete revelar no livro? Se são importantes e baseadas em provas, é sua obrigação apresentar todas elas agora. Se não são uma coisa nem outra, então o que adianta contá-las depois?
O que continua mergulhado no mais escuro segredo, com livro ou sem livro, é exatamente a mesma questão que havia quando tudo começou, em maio deste ano: por que o procurador Janot aceitou perdoar Joesley para o resto da vida, em troca de uma delação que até agora não rendeu absolutamente nada? A última notícia que se teve dessa denúncia monumental é ruim. O ministro do STF encarregado de julgar seu valor como prova devolveu a delação aos delatores – do jeito que está ela não serve. Deu-lhes mais 60 dias para provarem o que estão dizendo, pois não conseguiram fazer isso nos 120 que já tiveram. Isso mesmo: mais 60 dias. Porque seria preciso tanto tempo assim para provar mais alguma coisa? Já não está provado o suficiente? Esperemos o livro. Talvez, ali, tudo acabe explicado direitinho.
Por J.R. Guzzo
Um comentário:
"Hijos de la puta madre... medíocres, safados, ordinários, traidores...", essas são as qualidades exigidas para conseguir e se manter em cargos com atenção total na mediação entre o público e o privado - enfim, preocupados e focados no "por fora"?
O poder que a Nação delega ao Judiciário seria apenas para satisfazer o ego e o patrimônio dos seus agentes, sejam "cabeças acusadoras ou julgadoras", ou simples "pés burocratas, auxiliares de copas e estafetas"?
Idem, para o Legislativo. Idem, para o Executivo.
E ao o povo apenas pagar e não reclamar dos escorchantes impostos? Só serve para... sifu?
Povo calado, consentido. Tapa seus ouvidos, olhos e boca.
Povo se omite por medo desse terrível "sistema", ou porque já está viciado em ser pisado, desrespeitado?
Povo idiota e covarde.
Somos?
Postar um comentário