Ou Lula e o PT atingem a terceira margem do rio ou desaparecem. Não há um lugar intermediário. Ambos foram mergulhados no Rio da Morte. Ou sobrevirá o fim, ou está garantida a imortalidade. E quem os colocou nessa situação inédita foi Antonio Palocci. Nunca houve na legenda alguém como ele. O PT não conhecia esse tipo de traição. Volto ao ponto. Antes, algumas considerações.
A reação foi fulminante. Aqueles moços implacáveis, sob a inspiração de Sergio Moro –que veio para julgar os vivos, os mortos e os juízes que os julgam...–, sentiram cheiro de carne queimada. Perceberam que Rodrigo Janot, procurador-geral da República, o grande sacerdote do Comitê de Salvação Pública, havia caído em desgraça. Não há mais salvação para ele.
Fazer o quê? A população já andava desconfiada dos benefícios concedidos a Joesley Batista. Por mais poderosa que seja a fórmula desenvolvida pela Lava Jato –que soma justa indignação a ressentimento e a doses consideráveis de ignorância moralista–, há um limite. E Janot, com o apoio patriótico de Marcello Miller, o ultrapassou. Os benefícios concedidos a bandidos confessos ultrapassaram as fronteiras do aceitável.
Ainda que as pessoas não verbalizem paradoxos e contradições inelutáveis, elas os percebem. Se a vida de um criminoso confesso pode ser ainda melhor do que a daquele que nunca delinquiu, que vantagem objetiva há em ser honesto? Afinal, leitor, todos podemos achar justo que Joesley Batista viva melhor do que nós porque é mais competente, mais sagaz, mais eficiente, mais inteligente...
Podemos até considerar que sua gramática, dados os valores influentes, o torna mais apto a viver neste mundo. À sua maneira, seria um salto evolutivo... Mas uma coisa é certa: ele não pode ter uma vida melhor do que a nossa só porque é mais safado.
E as conversas que vieram a público entre Joesley e Ricardo Saud expõem uma urdidura sórdida, em que o combate à corrupção –que mobiliza tão bons sentimentos...– é o que menos importa. O que se vê ali, e cada um narre a coisa segundo a sua própria experiência no mundo da ficção, são dois larápios a evidenciar como estão manipulando o ente que julga manipulá-los. Joesley deixa claro que é preciso até empregar uma espécie de "TAC" (Termo de Ajuste de Conduta) Vocabular: é para chamar todo mundo de "bandido", de "vagabundo". É o que exige o Ministério Público Federal.
E os "colaboradores" se mostram dispostos a cumprir o seu papel. Joesley, como ficou claro, se dispõe até a fornecer carne humana a seus convivas: mulher, gay, não importa... Ele próprio está de olho em casadinhas de 50 anos, que chama "umas véia"... Certa elite brasileira seria verdadeiramente revolucionária no... século 19.
É mais do que pode suportar, e por bons motivos, a mentalidade média. Moralmente, era a decretação de morte da Lava Jato...
Janot ainda tentou reagir, apresentando duas denúncias contra Lula, Dilma e parte da cúpula petista. Não tem jeito. Ninguém mais o leva a sério. A bomba mesmo veio de Curitiba, na "confissão", que delação ainda não é, de Antonio Palocci.
O esforço conjunto da PGR e da Força Tarefa para derrubar Michel Temer resultou no vexame protagonizado por Joesley Batista e Ricardo Saud. Malsucedido no esforço golpista contra Temer, o grupelho percebeu que "bases populares" bateram em retirada.
Então era chegada a hora de "redemonizar" o PT, depois do esforço bem-sucedido para ressuscitá-lo.
Acredito em tudo o que diz Palocci. Só não entendi por que, até agora, ele não fez o acordo de delação premiada. Não é do tipo que se joga no trapézio, sem rede de proteção.
Os eventuais efeitos, digamos, penais das acusações de Palocci não são imediatos. Os próximos dias vão evidenciar se o PT conseguirá dar uma resposta política ao que está em curso.
Por Reinaldo Azevedo
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