sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Reação política às acusações de Palocci definirá se PT vai sobreviver


Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103

Ou Lula e o PT atingem a terceira margem do rio ou desaparecem. Não há um lugar intermediário. Ambos foram mergulhados no Rio da Morte. Ou sobrevirá o fim, ou está garantida a imortalidade. E quem os colocou nessa situação inédita foi Antonio Palocci. Nunca houve na legenda alguém como ele. O PT não conhecia esse tipo de traição. Volto ao ponto. Antes, algumas considerações.

A reação foi fulminante. Aqueles moços implacáveis, sob a inspiração de Sergio Moro –que veio para julgar os vivos, os mortos e os juízes que os julgam...–, sentiram cheiro de carne queimada. Perceberam que Rodrigo Janot, procurador-geral da República, o grande sacerdote do Comitê de Salvação Pública, havia caído em desgraça. Não há mais salvação para ele.

Fazer o quê? A população já andava desconfiada dos benefícios concedidos a Joesley Batista. Por mais poderosa que seja a fórmula desenvolvida pela Lava Jato –que soma justa indignação a ressentimento e a doses consideráveis de ignorância moralista–, há um limite. E Janot, com o apoio patriótico de Marcello Miller, o ultrapassou. Os benefícios concedidos a bandidos confessos ultrapassaram as fronteiras do aceitável.

Ainda que as pessoas não verbalizem paradoxos e contradições inelutáveis, elas os percebem. Se a vida de um criminoso confesso pode ser ainda melhor do que a daquele que nunca delinquiu, que vantagem objetiva há em ser honesto? Afinal, leitor, todos podemos achar justo que Joesley Batista viva melhor do que nós porque é mais competente, mais sagaz, mais eficiente, mais inteligente...

Podemos até considerar que sua gramática, dados os valores influentes, o torna mais apto a viver neste mundo. À sua maneira, seria um salto evolutivo... Mas uma coisa é certa: ele não pode ter uma vida melhor do que a nossa só porque é mais safado.

E as conversas que vieram a público entre Joesley e Ricardo Saud expõem uma urdidura sórdida, em que o combate à corrupção –que mobiliza tão bons sentimentos...– é o que menos importa. O que se vê ali, e cada um narre a coisa segundo a sua própria experiência no mundo da ficção, são dois larápios a evidenciar como estão manipulando o ente que julga manipulá-los. Joesley deixa claro que é preciso até empregar uma espécie de "TAC" (Termo de Ajuste de Conduta) Vocabular: é para chamar todo mundo de "bandido", de "vagabundo". É o que exige o Ministério Público Federal.

E os "colaboradores" se mostram dispostos a cumprir o seu papel. Joesley, como ficou claro, se dispõe até a fornecer carne humana a seus convivas: mulher, gay, não importa... Ele próprio está de olho em casadinhas de 50 anos, que chama "umas véia"... Certa elite brasileira seria verdadeiramente revolucionária no... século 19.

É mais do que pode suportar, e por bons motivos, a mentalidade média. Moralmente, era a decretação de morte da Lava Jato...

Janot ainda tentou reagir, apresentando duas denúncias contra Lula, Dilma e parte da cúpula petista. Não tem jeito. Ninguém mais o leva a sério. A bomba mesmo veio de Curitiba, na "confissão", que delação ainda não é, de Antonio Palocci.

O esforço conjunto da PGR e da Força Tarefa para derrubar Michel Temer resultou no vexame protagonizado por Joesley Batista e Ricardo Saud. Malsucedido no esforço golpista contra Temer, o grupelho percebeu que "bases populares" bateram em retirada.

Então era chegada a hora de "redemonizar" o PT, depois do esforço bem-sucedido para ressuscitá-lo.

Acredito em tudo o que diz Palocci. Só não entendi por que, até agora, ele não fez o acordo de delação premiada. Não é do tipo que se joga no trapézio, sem rede de proteção.

Os eventuais efeitos, digamos, penais das acusações de Palocci não são imediatos. Os próximos dias vão evidenciar se o PT conseguirá dar uma resposta política ao que está em curso.

Por Reinaldo Azevedo

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