Às voltas com uma democracia suicida, o Brasil acompanha com apreensão o comportamento de alto risco do Congresso Nacional. No início da madrugada desta quarta-feira, o Conselho de 'Ética' da Câmara voltou a exibir uma clara tendência para a autodesmoralização. O colegiado decidiu, finalmente, abrir um processo de cassação contra Eduardo Cunha. Fez isso, no entanto, de uma maneira que desestimula celebrações eufóricas.
O placar foi apertado, muito apertado, apertadíssimo: dez votos pelo arquivamento do pedido de cassação; dez votos pela continuidade do processo. O presidente do conselho, que só se manifesta em caso de empate, votou contra Cunha. Para garantir esse placar de 11 a 10, o relator da encrenca, Marcos Rogério (PDT-RO), teve de abrandar as acusações contra Cunha. Do contrário, Paulo Azi (DEM-BA) ameaçava engrossar o coro a favor do arquivamento.
Responda rápido: o que é mais vergonhoso, a demora de quase cinco meses para analisar a admissibilidade de um processo tão óbvio ou a constatação de que 50% dos membros do Conselho de ‘Ética’ da Câmara continuam 100% fechados com Eduardo Cunha?
O Legislativo vive uma época de faltas: falta de vergonha na cara, falta de compromisso público, falta de sensatez, falta de amor próprio, falta de lealdade com o eleitor… Por outro lado, o Parlamento atravessa uma fase de excessos: excesso de corrupção, excesso de cinismo, excesso de manobras, excesso de patrimonialismo, excesso de cumplicidade…
Insista-se: em meio a faltas e excessos, o Parlamento brasileiro vem adotando, não é de hoje, um comportamento de alto risco. Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas este é um dos piores Congressos da história republicana. Melhor, talvez, nem dizer isso em voz alta. Aí mesmo é que a democracia pode tocar fogo nas vestes.
Por Josias de Souza
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