segunda-feira, 4 de junho de 2018

Governança da monopolista Petrobras tende a piorar na próxima gestão


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Não há a menor chance de o Brasil melhorar a sua relação com a Petrobras no futuro governo. Ao contrário: tudo tende a piorar. Vamos dar passos para trás. A razão é bastante clara: é fácil justificar o erro e é muito difícil, quase impossível, explicar a coisa certa. Quando se tem essa inversão absoluta dos vetores da razão e do bom senso, é sinal de que algum outro grande mal está coberto por disputas de superfície. É o caso.

O Brasil diminuiu o refino de diesel e aumentou a importação do produto. Reportagem da Folha deste domingo informa que “as importações de diesel atingiram 3,6 bilhões de litros no primeiro trimestre, alta de 5,3% com relação ao ano anterior e custaram ao país US$ 1,8 bilhão no período. O volume importado é o maior desde 2000”. Mais: “a participação de diesel importado nas vendas do combustível no país chegou a 28%, a maior da série histórica e 27% superior à segunda maior, em 2017.”

Como explicar a decisão? É só entreguismo e estratégia para desmontar a Petrobras, como dizem as esquerdas? Não. A Petrobras pensa no caixa da empresa. A partir de um determinado ponto, é mais rentável para a empresa exportar o petróleo cru e importar o diesel. Como pode ser? Segundo a direção — e quem conhece a área diz que, em si, a decisão e correta —, o refino que resulta no diesel gera subprodutos de baixo valor comercial, e o custo de armazenamento e transporte acaba tornando a operação contraproducente.

Para que a Petrobras seja competitiva, para que gere o interesse dos investidores, para que, enfim, possa remunerar adequadamente seus acionistas, deve buscar fazer o que for melhor para si mesma. Embora o Estado seja o maior acionista, trata-se de uma empresa de capital aberto.

Ocorre que isso não se faz sem consequências — no caso, econômicas e políticas. E chego ao ponto mal compreendido por alguns nos posts que escrevi sobre a queda de Pedro Parente, com uma crítica muito dura à sua carta de demissão, que considerei alarmista, parecendo mais uma tentativa de derrubar as ações da empresa na Bolsa.

A Petrobras tem o monopólio do refino no Brasil. Observem que é ela — não é o governo nem o mercado — a decidir quanto refina, quanto deixa de refinar, se vai importar mais, se vai importar menos, o modo como esse custo vai ser repassado ao consumidor etc. Sobre esse ultimo Item, como vimos, os reajustes diários encontraram uma sociedade insatisfeita com a própria renda, vivendo um momento de frustração com um crescimento que estava destinado a ser maior não fossem os desastres políticos e o fato de o país ser governado pelo Partido da Polícia. Aí bastou que os potentados dos transportes organizassem o locaute. E nós vimos o que aconteceu.

As medidas tomadas pelo governo, na bacia das almas, com o país roçando o caos, lustram o atraso: congelamento de preço por algum tempo, tabelamento de frete, manutenção da desoneração da folha de pagamento das transportadoras, autorização para a Conab contratar até 30% da demanda por frete sem licitação…

A direita xucra, de extração bolsonarista, foi para a rua pregar golpe. Mais uma vez. Os ditos “liberais”, de novo, abstiveram-se de fazer o bom debate. O tal centro político não conseguiu nem mesmo apresentar um diagnóstico da crise. E quem exerceu, vamos dizer, a hegemonia narrativa ao fim de tudo? As esquerdas. A direita parou o país para a esquerda faturar.

Por Reinaldo Azevedo

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