Guilherme Fiuza, O Globo
Confirmado: há um golpe de Estado em marcha no Brasil, para destituir o governo popular que pensa nos pobres e devolver o poder à direita que pensa nos ricos. Quase ninguém notou, mas Sérgio Moro é um codinome em homenagem ao general Mourão, que iniciou com suas tropas o golpe de 64. Moro é Mourão, Dilma é mulher, Lula é pobre. Combinado assim?
O Brasil tem o primeiro governo oprimido da história da Humanidade. O Palácio do Planalto virou uma trincheira, onde a presidenta mulher faz comícios quase diários em defesa dessa gente sofrida e milionária que o reacionário Moro Mourão quer pisotear.
Sabem o que Dilma Rousseff berra nesses comícios palacianos? Que há uma ameaça de golpe de Estado no país. Se esse não fosse um governo coitado e café-com-leite, isso seria crime.
Se a presidente não fundamentar sua grave acusação, ela está agindo em flagrante coação de outro poder da República — o Legislativo, que examina um pedido de impeachment contra ela. Claro que Dilma não fundamenta nada (seria pedir demais). A Constituição Federal diz que isso é crime. Ou seja: temos um governo oprimido e uma Constituição golpista.
Como o Brasil tem uma opinião pública flácida e uma oposição frouxa, tudo passa. A presidenta mulher carrega na bolsa uma coleção de indícios de crimes de responsabilidade. Mas essa bolsa está muito bem guarnecida pelo Supremo Tribunal Federal, onde o ministro relator Teori Zavascki não vê, nunca viu e nunca verá motivos para se determinar a investigação da dona da bolsa.
Deve ser uma questão de privacidade. Se ali dentro tem uma refinaria superfaturada, tentativas de obstrução da Justiça ou complacência com auxiliares criminosos, são questões de foro íntimo.
Aí a presidenta mulher sai gritando que, sem crime de responsabilidade, tudo é golpe. E o país abobado engole a fraude (mais essa). Não há — nem pode haver — crime de responsabilidade provado, porque nem processo há (graças aos supremos companheiros federais).
Mas a floresta de evidências desses crimes está escancarada pela Operação Lava-Jato, tendo inclusive ensejado o pedido de impeachment da imaculada presidenta (anexando o crime de responsabilidade fiscal). E o impeachment é um processo político legal, que não depende de sentença judicial. Collor caiu sem ser condenado.
Os comícios no Palácio estão animados. O antropologicamente mais interessante foi uma claque de mulheres reunidas pela presidenta mulher para gritar “fora Bolsonaro”. Não é genial? O que seria desse governo oprimido sem a direita, a ditadura militar e o Bolsonaro?
Enquanto isso, o companheiro Dirceu — herói da esquerda contra a ditadura e chefe de Dilma Rousseff e do mensalão, não necessariamente nessa ordem — caminha para nova condenação, pelo petrolão. Está dando para acompanhar? A representante legal (sic) do bando que depenou o país está no Palácio gritando fora Bolsonaro.
Ficou com vergonha do lugar onde você vive? Pois saiba que a MPB, a esquerda festiva e boa parte da intelectualidade (pai do céu) brasileira não têm vergonha nenhuma. São os zeladores do conto de fadas revolucionário, os guardiães implacáveis dos pobres milionários.
Eles querem a cabeça de Moro Mourão, porque mostrar como a elite vermelha arrancou as calças da Petrobras é fascismo. Você achou que a desonestidade intelectual tinha limite? Sabe de nada, inocente.
Calma que tem mais. Sabe qual é o novo bordão dos denunciantes do golpe contra a clepto-democracia petista? Gritar que os vazamentos da Lava-Jato são seletivos.
Pensando bem, a Lava-Jato é toda seletiva: os golpistas de Moro Mourão escolheram seletivamente investigar o maior assalto aos cofres públicos de todos os tempos, decidiram cirurgicamente investigar os governos do PT que perpetraram esse assalto, resolveram arbitrariamente revelar que a cúpula do crime e o estado-maior de Lula são exatamente a mesma corja e, por fim, cismaram obsessivamente de mostrar que a corja regida por Dilma está usando as instituições públicas para sabotar as investigações e não ter que largar o osso. É muita seletividade mesmo.
Mas não pense o comandante Moro Mourão, esse fascista, que vai acabar assim facilmente com as trampolinagens do grande circo místico. Os ases da mistificação estão em posição de combate no STF.
Dali já saíram petardos fulminantes contra o Congresso Nacional, mostrando que os brasileiros não precisam invejar os venezuelanos e sua democracia tarja preta. E vem mais, podem esperar. Não duvidem se surgir um Barroso descobrindo que, com base no rito do caso Collor, para o impeachment de Dilma está faltando um PC Farias.
Esqueça o Bessias, a propina da Andrade Gutierrez para o PT reeleger a presidenta mulher, o laranjal do Lula. Não seja seletivo. Concentre-se em combater as tropas fascistas de Moro Mourão. E diga não à guerra do Vietnã.
Um comentário:
Se eu, como cidadão dos vales, e não da planície, ou melhor, do planalto, fizer uma incitação ao crime, mesmo que seja para meu comparsa roubar um botijão de gás ou uma gaiola de passarinho, em cinco minutos terei contra mim instaurado uns processos.
Seguindo esta linha de pensamento pergunto: Por que ninguém, especialmente o Ministério Publico, não instaurou um só dele contra as pessoas que fazem comício contra o impeachment até em banheiro de rodoviária?
Como diz o humorista: Não precisa responder, é só queria saber.
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